Dividi o texto em duas partes porque iria ficar muito grande, e a leitura seria maçante. Espero que estejam gostando até agora.
Consideremos todas as pessoas que vivem em regiões remotas do mundo e que jamais ouviram o “evangelho” de Jesus Cristo. Consideremos as pessoas que aderiram naturalmente à religião de seus pais e nação — como foram ensinados a fazer desde seu nascimento. Se acreditarmos no que os cristãos dizem, todas essas pessoas irão perecer no fogo eterno por não acreditarem em Jesus. Não importa quão justos, bondosos e generosos eles foram com seus semelhantes durante sua vida: se não aceitarem o evangelho de Jesus, estão condenados. Nenhum Deus justo jamais julgaria um homem por suas crenças em vez de suas ações.
Isso não é verdade e é uma acusação infundada. Seria negar a justiça de Deus. Uma pessoa não pode ser julgada por algo que não conhecia. Existiram milhões de pessoas que viveram antes de Jesus Cristo, e milhares ainda hoje que nunca tiveram a oportunidade de ouvir falar de Jesus. Isso não quer dizer que não haja meios (mesmo que desconhecidos a nós) de Deus se revelar a essas pessoas, talvez de maneira incompleta, esperando a plenitude da revelação com a chegada do conhecimento de Jesus. Isso é mostrado de maneira muito clara no livro "O Fator Melquisedeque", que seria muito bom se adquirissem e lessem. Além disso, há o versículo no Evangelho de Lucas: "A quem pouco foi dado, pouco será cobrado; e a quem muito foi dado, muito será cobrado" (Lc 12.48). Mostra-se mais uma vez o amor e a justiça de Deus revelados aqui.
Sobre a salvação ser pela fé e não pelas ações, leia estes versos: "Porque pelo favor divino vocês são salvos; e isto não vem de vocês, é um presente de Deus; não é pelas ações, para que ninguém se orgulhe disso" (Ef 2.8,9 - tradução livre). Isso quer dizer que Deus não instituiu a salvação por nossas ações, primeiro porque não queria que ninguém se orgulhasse de ter conseguido isso sozinho, pois ninguém é superior a Deus, ninguém nunca conseguirá ser bom o suficiente para alcançar favor dele por merecimento; segundo porque somos naturalmente incapazes de fazer plenamente o bem, pois todos nós estamos incompletos se não tivermos Deus em nós. [Peço, encarecidamente, que para entender sobre salvação, fé, graça e pecado, leiam a carta de Paulo aos Romanos, principalmente os capítulos 3 a 6. É um texto muito mais completo do que qualquer coisa que eu posso escrever].
Deus está disposto a salvar todos os homens, mas como poderia fazê-lo se o homem não acredita em Deus ou nos seus atributos? Deus não tem nada o que fazer nessa situação. Por isso, a fé é a primeira condição óbvia para que exista salvação. E Deus foi tão misericordioso que fez dela a única condição.
Finalmente, sobre Deus condenar ou salvar por causa das crenças ou ações, entendam de modo simples como isso funciona: Deus não condena ninguém por suas crenças, nem salva ninguém por suas crenças. Ele salva por puro favor, ou presente (chamado na Bíblia de graça) e condena por causa das ações. Se fosse pelas ações, ninguém seria salvo; todos somos incapazes de fazer o bem, se não estamos com Deus - e se estamos com Ele, estamos salvos. Pra estarmos com Ele, precisamos apenas saber e acreditar que Ele existe e aceitar esse presente que é oferecido. "Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam." (Hb 11.6) Isto sim é impossível logicamente.
Revelação imperfeita da perfeição
A Bíblia supostamente é a palavra perfeita de Deus. Ela contém instruções para que a humanidade evite as eternas chamas do inferno. Quão maravilhoso e bondoso da parte deste Deus é proporcionar a nós meios de superar os problemas pelos quais ele, em última instância, é responsável!
Continua a inscansável ênfase no inferno de fogo, se esquecendo que isso é uma consequência inevitável da escolha do homem, como expliquei anteriormente.
O Deus todo-poderoso poderia, por um simples ato de sua vontade, eliminar todos os problemas que nós, humanos, precisamos enfrentar; mas, em vez disso, com sua sabedoria infinita, ele optou por oferecer este indecifrável amálgama de livros denominado Bíblia como meio para evitaremos o inferno que ele preparou para nós. O Deus perfeito decidiu revelar sua vontade através desta obra imperfeita, escrita na linguagem imperfeita dos humanos imperfeitos, traduzida, copiada, interpretada e narrada por homens imperfeitos. Dois homens nunca irão concordar sobre o que a palavra de Deus realmente significa, visto que grande parte dela é autocontraditória ou obscurecida por enigmas. E ainda assim o Deus perfeito espera que nós, imperfeitos humanos, entendamos este enigma paradoxal utilizando as mentes imperfeitas com as quais ele nos equipou. Certamente o Deus todo-sabedoria e todo-poderoso sabia que teria sido melhor revelar sua vontade perfeita diretamente a cada um de nós em vez de permitir ela fosse distorcida e pervertida pela imperfeita linguagem e pelas ruinosas interpretações do homem.
Sobre isso, como realmente o autor afirmou muitas coisas, tenho muito para refutar, e ficaria tedioso falar tudo aqui. Primeiro, acusa a Bíblia de ser imperfeita e possuir contradições. A Bíblia atende ao propósito para o qual foi escrita, que é ser a revelação escrita de Deus e Sua vontade para o homem. A Bíblia contém alguns erros de tradução ou de cópia que são facilmente detectáveis e muitas vezes são irrelevantes, mas sua mensagem é complementar em todas as suas partes, a essência do texto é incorruptível.
Justiça contraditória
Não se precisa olhar em qualquer lugar senão própria na Bíblia para descobrir suas imperfeições, pois ela se contradiz, e assim expõe sua própria imperfeição. Ela se contradiz em questões de justiça, pois o mesmo Deus que assegura seu povo de que os filhos não serão punidos pelos pecados de seus pais acaba por destruir uma família inteira pelo pecado de um homem (ele havia roubado um pouco do saqueio de guerra de Iavé). Foi o mesmo Iavé que afligiu milhares de inocentes com praga e morte para punir o maldoso rei Davi por tomar um censo. Foi o mesmo Iavé que permitiu que humanos matassem seu filho porque o perfeito Iavé tinha fracassado em sua própria criação. Consideremos quantos foram apedrejados, queimados, assassinados, estuprados e escravizados devido ao distorcido senso de justiça de Iavé. O sangue de bebês inocentes está nas mãos perfeitas, justas e compassivas de Iavé.
Sempre ficamos horrorizados quando nos deparamos com uma morte violenta, porque todos nós estamos sujeitos a possivelmente experimentar o mesmo, e isto seria terrível para nós, a nosso ver. Por isso, consideramos o homicídio algo terrível, principalmente porque grande parte da raça humana não tem certeza do que acontece depois da morte, parece que quando matamos alguém, fazemos cessas a existência dessa pessoa, e para nós isso seria a pior coisa que pode acontecer com alguém. Por isso as pessoas não podem conceber um Deus que mata.
As pessoas se esquecem de que Deus não é humano, e que quando morrem, as pessoas não deixam de existir. Ao matar uma pessoa Deus está simplesmente tirando a alma dela de nosso planeta, tirando uma peça do nosso tabuleiro. Engraçado como os ateus geralmente argumentam com razão, mas apelam para a emoção neste caso. Os seres humanos geralmente matam por motivos egoístas, como inveja (que causou o primeiro homicídio), a raiva, e tantos outros. Deus é o único que não pode errar, então se Ele mata alguém não seria motivado pelos mesmos motivos que nós, embora por nossa visão limitada só possamos enxergar dessa maneira. Esse é um assunto extenso demais para caber em um ou dois parágrafos, há um pequeno texto introdutório sobre o assunto aqui.
História contraditória
A Bíblia contradiz-se em questões históricas. Uma pessoa que lê e compara os conteúdos da Bíblia ficará confuso sobre quem eram exatamente as esposas de Esaú, se Timná era uma concubina ou um filho e se a linhagem terrena de Jesus vem de Salomão ou de seu irmão Natã. Há centenas de contradições históricas documentadas.
Em geral essas contradições são erros de tradução ou mesmo desconsiderações de contexto. Sobre as esposas de Esaú, que aparecem com nomes diferentes em Gn 26.34, 28.9 e 36.2,3 . era comum as pessoas, principalmente da família hebréia, mudarem de nome ao longo de suas vidas; Compare com Abrão-Abraão; Sarai-Sara; Jacó-Israel; etc. Sobre as duas lingaens de Jesus, as duas estão corretas, a tradição geralmente aceita uma como sendo a materna e outra como sendo a paterna. Se houver um estudo aprofundado essas aparentes contradições desaparecem.
Se a Bíblia não pode confirmar a si própria em questões mundanas, como poderemos confiá-la em questões morais e espirituais?
O objetivo da Bíblia não é ser um livro de coisas mundanas, mas sim de espirituais. É a mesma coisa que dizer que uma bola de boliche não serve pra nada porque não podemos jogar pingue-pongue com ela.
Profecias falhadas
A Bíblia interpreta mal suas próprias profecias. Compare-se Isaías 7 com Mateus 1 para se encontrar apenas uma das muitas profecias mal interpretadas das quais os cristãos são passivamente ou deliberadamente ignorantes. O sinal dado por Isaías ao rei Ahaz visava assegurá-lo de que seus inimigos, Rei Rezim e Rei Remalia, seriam derrotados. Essa profecia foi cumprida exatamente no capítulo seguinte. Ainda assim, Mateus 1 não apenas interpreta erradamente a palavra “donzela” como “virgem”, mas também alega que esta profecia já cumprida na realidade cumpriu-se com o nascimento virginal de Jesus!
As profecias da Bíblia podem se referir a mais de um evento específico, e geralmente um evento é símbolo de outro acontecimento futuro. O texto acabou de citar um exemplo, me poupou disso. Não há confusão entre a palavra "donzela" e "virgem", na tradição judaica, mais de 99% das donzelas judaicas eram virgens, então é quase que uma consequência.
O cumprimento de profecias na Bíblia é citado como prova de sua inspiração divina, entretanto, aqui está um bom exemplo de uma profecia cujo significado original foi e continua sendo distorcido para sustentar doutrinas absurdas e falsas. Não há limites para o que um indivíduo crédulo fará para sustentar suas crenças febris quando confrontado com evidências contundentes.
blá, blá, blá...
A Bíblia é imperfeita. Apenas uma imperfeição é necessária para destruir a suposta perfeição da palavra de Deus. Muitas foram encontradas. Um Deus perfeito que revela sua vontade perfeita através de um livro imperfeito é impossível.
Aí de novo o jogo de palavras com a palavra perfeição. A Bíblia é perfeita, no sentido de revelar completamente a vontade de Deus. A Bíblia contém "erros" (em detalhes tão irrelevantes quanto o nome das esposas de Esaú ou a verdadeira identidade do Timná, que seja), mas em caráter prático, as orientações que elas nos dá através de Jesus e Paulo, por exemplo, são tão claras que é muito difícil distorcê-las (tem alguns acrobatas que conseguem).
O onisciente altera o futuro
Um Deus que conhece o futuro é impotente para mudá-lo. Um Deus onisciente que é todo-poderoso e dotado de livre-arbítrio é impossível.
Deus sabe de tudo que acontece, ao mesmo tempo tudo está sob o seu controle. Ele sabe o que vai acontecer porque Ele determinou o que aconteceria. A falácia dessa frase está na tentativa de introduzir Deus num contexto temporal, o que não procede. Deus não está preso a ideia de tempo, pra Ele talvez tudo aconteça ao mesmo tempo, não saberia explicar como é. Sem o tempo o conceito de causalidade não é definida. Basta pensarmos em viagem no tempo que nossos paradigmas sobre causa e efeito são abalados. Tal ciência é inatingível para nós.
O onisciente é surpreendido
Um Deus que sabe tudo não pode ter emoções. A Bíblia diz que Deus experimenta todas as emoções humanas, incluindo ódio, tristeza e felicidade. Nós, humanos, experimentamos emoções como resultado de um novo conhecimento. Um homem que desconhece a infidelidade de sua esposa irá experimentar as emoções de ódio e tristeza apenas após descobrir o que anteriormente, para ele, estava oculto. Em contraste, o Deus onisciente não é ignorante em relação a qualquer coisa. Nada é oculto para ele, nada novo pode lhe ser revelado — assim não há como adquirir um conhecimento ao qual possa reagir emocionalmente.
Nós, humanos, experimentamos ódio e frustração quando algo está errado e somos impotentes para consertá-lo. O Deus perfeito e onipotente pode, entretanto, consertar qualquer coisa. Humanos sentem desejo daquilo que lhes falta. Para o Deus perfeito nada falta. Um Deus onisciente, onipotente e perfeito que experimenta emoções é impossível.
Essa eu por hora não respondo. Não tenho conhecimento suficiente para tal. Mas não desisto de pensar em algo que possa solucionar o dilema (ou procurar alguém que já tenha solucionado). Por fim devo dizer que esse campo de argumento é muito perigoso, porque sendo Deus onisciente e atemporal, não podemos fazer deduções sobre seu comportamento, visto que não conhecemos como seria estar nessas condições, e também não seríamos capazes de compreendê-la, porque nunca experimentamos isto. Devemos ter cuidado em ficar especulando muito sobre isso; o conhecimento de Deus para o cristão está limitado ao que Ele revela na natureza e na Bíblia. Esperamos que um dia Ele possa revelar mais sobre Si mesmo.
Conclusão
Ofereci argumentos para a impossibilidade — e, portanto, para a inexistência — do Deus cristão Iavé. Nenhum indivíduo racional e livre-pensador pode aceitar a existência de um ser cuja natureza é tão contraditória quanto a de Iavé, o “perfeito” criador de nosso imperfeito Universo. A existência de Iavé é tão impossível quanto a existência de esferas cúbicas ou unicórnios róseos invisíveis. Apesar de que crentes podem encontrar conforto em serem fiéis a impossibilidades, não há maior satisfação que a de possuir uma mente lúcida. Eles podem escolher servir um Deus impossível. Eu escolho a realidade.
Eu acabei de mostrar a realidade que o texto não mostrou. Cabe, agora, aos leitores fazerem o julgamento por suas próprias mentes.
Abraços e Paz de Cristo
A fé religiosa só serve para escravizar, entorpecer, parasitar e anular a mente humana.
ResponderExcluirAté porque a fé do místico não brotaria da dúvida sensata, da interrogação inteligente, da observação cuidadosa ou do desejo de descobrir e contar a realidade, mas sim de alguma convicção que arrastaria o crente para um estado pueril e não controlado, onde os pensamentos mágicos do crente se sobrepoem à realidade que o incomoda...
Apesar do “sobrenatural” não agir sobre o mundo físico, e o uso da razão e da lógica serem as características mais importantes do homem civilizado, que procura explicações sem censuras para os acontecimentos e fenômenos que se passam a sua volta, os místicos continuam insistindo em “explicar” o Universo em que vivemos de maneiras mágica, mitológica ou dogmática.
A fé das multidões seria uma necessidade emocional que não seguiria a lei da razão e da lógica, mas sim, os desejos, as convicções e a “programação” dos indivíduos infectados com mitologias.
Ou seja, um parasitismo onde se manteria a mente fechada; forçar-se-ia a obediência cega; e se promoveria uma crença sem lógica, sem provas. E se acredita em algum Deus que nunca existiu.
Lisandro Hubris
Parece até que você não leu o texto sobre fé, Lisandro. O nosso Universo é explicado de maneira científica. A causa do Universo é necessariamente transcendente, então a explicação é necessarimante transcendente.
ResponderExcluirO tipo de provas que temos para Deus não é o mesmo tipo de provas que temos para coisas no Universo, os dois estão em âmbitos totalmente diferentes. Você mistura tudo. Só lança pretensas acusações e nenhum argumento. Queria ver o comentário de um ateu sério aqui.
Abraços