quarta-feira, 9 de março de 2011

A busca de Deus para que o adoremos é uma atitude vã?

Olá, mais uma vez. Prometi no último texto que traria algo sobre o assunto "adorar a Deus". Não gosto muito de iniciar um assunto sem tratar das definições primeiro. Acho que as pessoas, principalmente as não-familiarizadas com o assunto, simplesmente não compreendem o sentido da palavra "adorar".

Na Bíblia, são usadas a a palavra hebraica " 'abhodha" e a palavra grega "latreia", ambas significando servir com reverência, admiração ou respeito. Da palavra grega latreia provém alguns termos em nossa língua, como "idolatria". É muito fácil de entender a idolatria, a exemplo de jovens de adolescentes que assistem shows de seus ídolos, viajam quilômetros para vê-los, compram tudo o que tenha sua imagem, fazem de tudo para se identificarem com ele.

As outras palavras relacionadas com adoração na Bíblia são o hebraico "shachah", quie significa prostrar-se ou inclinar-se, e o grego "proskyneo", que significa literalmente "beijar a mão". A palavra equivalente no latim é o verbo "adorare", que etimologicamente significa "falar com".

Dá pra ver que a palavra "adorar" tem um sentido muito mais amplo e profundo do que geralmente se pensa. Adorar a Deus não é só ir a igreja, pagar dízimo, acreditar cegamente em pastores, está muito longe disso. Adorar é uma coisa individual, que você faz com Deus, quando você dá o lugar na sua vida que Ele merece; quando se prostra em reverência a Ele com suas ações e pensamentos; quando gosta de agradá-lo e procura fazer de tudo para parecer com Ele (com Jesus, no caso, que é nosso exemplo de vida).

Vou deixar de chatear vocês com essas predefinições e iniciar logo o texto. Foi extraído de um blog que admiro muito, e que você pode encontrar na minha seção de links.


A busca de Deus para que o adoremos é uma atitude vã?
John Piper

Carta aberta a Michael Prowse

Caro senhor Prowse,
Seria de grande alegria para mim persuadi-lo de que aquilo que Deus quer como adoração é fruto do mais belo amor, e não de um orgulho repulsivo. Em 30 de março de 2003, seu artigo publicado no London Financial Times declarava:

A adoração é um aspecto da religião que eu sempre tive tive dificuldade para entender. Admitamos a probabilidade de um ser onipotente que, por razões inescrutáveis, decide criar alguém além de si mesmo. Por que deveria ele... esperar que o adorássemos? Não pedimos para ser criados. Nossa vida é frequentemente atribulada. Sabemos que os tiranos humanos, inchados pelo orgulho, exigem adulação e homenagem. Deus, entretanto, moralmente perfeito de certo não teria falhas de caráter. Então, por que todas aquelas pessoas se ajoelham a cada domingo?

Não compreendo por que você assume que a única razão pela qual Deus busca o louvor seja por necessidade ou incompletude. Isso pode ser verdade para meros seres humanos, mas com Deus há outra possibilidade.

E se a admiração, como o ateísta Ayn Rand disse certa vez, for o mais raro e melhor dos prazeres? E se, como desejo que Ayn Rand possa enxergar, Deus realmente for o ser mais admirável do Universo? Isso não implicaria que a convocação de Deus para o louvarmos seja algo que vise a nossa suprema alegria? E se o custo para que o chamado à adoração se tornasse possível for a vida de seu Filho... isso não seria amor (em vez de arrogância)?

A grandeza de Deus é a razão bíblica para que o louvemos muito. "Porque grande é o Senhor mui digno de ser louvado" (Sl 96.4). Ele é mais admirável do que qualquer coisa que ele tenha criado.

Além disso, a Bíblia diz que o louvor, uma admiração sincera e transbordante, nos dá prazer:
"Louvai ao Senhor, porque é bom e amável cantar louvores ao nosso Deus" (Sl 147.1). E esse prazer é o que há de melhor e dura para sempre: "na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente" (Sl 16.11).

Concluímos, então, que o desejo de Deus pelo supremo louvor é seu desejo pela nossa suprema felicidade. No fundo do coração, sabemos que não fomos feitos para sermos adulados, para a auto-exaltação. Fomos feitos, porém, para exaltar alguém maior do que nós.

A maior das alegrias vem quando nos esquecemos de nós mesmos e somos atraídos pela maior das grandezas, a grandeza de Deus. Cada coisa boa que já emocionou o coração do homem é amplificada em dez mil vezes ao tocar no coração de Deus, o seu Criador. Deus é peculiar, é o único ser que ministra amor ao ser adorado. Se ele agir "humildemente" e nos afastar de sua beleza, sugerindo que encontremos alegria em qualquer outra coisa, seremos arruinados.

Grandes pensadores têm dito isso muito antes de mim. Jonathan Edwards, por exemplo:É fácil imaginar que Deus aspira o bem da criatura... até mesmo sua Felicidade, através de uma suprema consideração sobre si mesmo; no momento em que a felicidade surge... quando a criatura exercita sua suprema admiração por Deus... ao amá-lo e regozijar-se nele... O respeito de Deus ao bem da criatura e a si mesmo não são assuntos distintos; estão unidos em um só propósito, à medida que a felicidade surge; quando a criatura exercita sua suprema admiração por Deus...ao amá-lo e regozijar-se nele... O respeito de Deus ao bem da criatura e a si mesmo não são assuntos distintos; estão unidos em um só propósito, à medida que a felicidade almejada para a criatura consiste na felicidade da união consigo mesmo.

C. S. Lewis alcança a beleza da auto-exaltação de Deus. Pensando a princípio, como você, que os Salmos soavam como uma velha senhora que deseja ser elogiada, ele finalmente enxergou o óbvio:

Toda a minha dificuldade sobre o louvor a Deus se apoiava em minha absurda negação de que pudéssemos nos deleitar ao admirarmos o Supremamente Valoroso, o que de fato acontece em relação às demais coisas que valorizamos. Agora, penso que nos deleitamos em louvar o que desfrutamos porque o louvor não simplesmente expressa, mas completa a alegria; trata-se da consumação de sua própria ordem.

Tanto Edwards quanto Lewis perceberam que louvar Deus é a consumação da nossa alegria nele. Uma alegria que flui de sua infinita beleza e grandeza. Não há quem o supere em qualquer aspecto. Ele e absolutamente desejável. Porém, somos pecadores e não vemos isso, não o desejamos, pois desejamos a nós mesmos acima de tudo Jesus Cristo, por outro lado, ensinou nos a sermos humanos de outra forma, morrendo pelos nossos pecados, absorvendo a ira de Deus contra nós e abrindo o caminho para vermos Deus e desfrutarmos dele. "Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto sim, na carne, mas vivificado no espírito" (lPe 3:18).

Portanto, a razão pela qual Deus busca nosso louvor não é porque esteja incompleto até obtê-lo, mas porque nós não seremos completos até o louvarmos. Isso não é arrogância. É amor. Oro para que você possa ver a beleza do seu Criador e Redentor, e dela desfrutar.

1 Jonathan EDWARDS. “The End for Which God Created the World”. In: John PIPER, God's Possion for His Glory. Wheaton: Crossway Books, 1998, p 248 s
2 C S. LEWIS. "Reflections on the Psalms". Nova York: Harcourt, Brace and World, 1958, p. 93 -5.

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Extraído do livro: A vida é como a Neblina, de John Piper
Copyright: © Editora Mundo Cristão 2008 - O leitor tem a permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e/ou tradução; informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright; e não lucre com esse material nem de modo direto (vendendo) ou indireto (possuindo propagandas em seu site), de acordo com o artigo 184, título III, no código penal brasileiro.

Copiado de: www.deusemdebate.blogspot.com
Abraços , Paz de Cristo.

2 comentários :

  1. Ora, é a mesma coisa do casamento.

    Quando uma pessoa casa, ela pensa primeiramente em amar o próximo antes do que a ela própria.
    Sua felicidade é, principalmente, amar o próximo.
    Ou vc é feliz em amar uma pessoa e não demonstrar nenhum tipo de afeto? Isso seria possível? Acaba se tornando até involuntário...rsrs

    Um ama o outro e assim serão completos, felizes.

    Qnd um deles busca os seus próprios interesses, o casamento não flui.

    Deus é assim conosco, nós somos sua noiva e devemos primeiramente amá-lo e admirá-lo.(embora temos consciencia de que, diferentemente de um "marido carnal", ele não precisa do nosso louvor, ele não precisa de nós, nós é que precisamos dEle) E então a nossa felicidade só será completa dessa maneira. Infelizmente a maneira como amamos a Deus, e como o adoramos não chega nem aos pés do amor que Ele tem por nós, amor esse infinito, incondicional.

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