sábado, 27 de agosto de 2011

A Alma da Ciência (anotações do primeiro capítulo, Parte 4)



Controvérsias entre a Igreja e a Ciência

Ao começar a ler o texto anterior, a reação de muitas pessoas deve ter sido de surpresa ou ceticismo. Como havia sido dito, este conceito não está muito difundido no meio popular, ao longo do último século as polêmicas anti-religiosas exageraram sobre a oposição da Igreja à ciência.

Alguns historiadores ainda criticam muito os reformadores, como Calvino e Lutero, por supostamente terem atacado severamente a ciência de Copérnico. A verdade é que há poucos ou nenhum relato sobre a posição destes homens. Há alguns fragmentos de comentários ou sermões, mas que a autenticidade deles pode ser posta em dúvida.Geralmente pensa-se que a cosmologia copernicana, com seu heliocentrismo, causaria uma grande revolução na época, fazendo a Terra deixar de ser o centro do Universo para ser apenas um ponto sem nada de especial. Entretanto, naquele tempo já havia uma outra ideia entre o meio popular: associava-se o centro do Universo ao inferno, e a abóbada celeste ficava mais nobre, à medida de que afastava-se do centro. Assim, a Terra como terceiro planeta ao redor do Sol, não ficaria nem em uma posição exaltada, nem em uma posição depreciativa. A interpretação clássica sobre este acontecimento é muito influenciada pelo tipo de pensamento que temos hoje, notadamente a influência positivista. Ou seja, não passa de um anacronismo.

Para que possa se compreender melhor o apoio cristão à iniciativa científica, é preciso distinguir a Instituição denominada Igreja Cristã ou Católica Romana e os cristãos em si daquele tempo. É realmente um fato que muitos dos primeiros cientistas enfrentaram conflitos com a política eclesiástica, entretanto todos eles ao mesmo tempo permaneceram firmes em suas convicções religiosas pessoais.

Galileu Galilei (1564-1642) é o exemplo mais recorrente deste conflito. E o pior é que normalmente se exibe uma imagem caricaturística do evento a ele relacionado, enquanto a própria história mostra que foi algo muito mais complexo que uma simples embate entre ciência e fé. O livro "The Crime of Galileo", de Giorgio de Santillana, diz exatamente isto. Na verdade, a maior parte dos intelectuais da Igreja defendia Galileu (o próprio Papa tinha sido, antes do conflito, um dos seguidores de Galileu). A oposição mais clara a ele vinha de ideias seculares, de filósofos acadêmicos. Afinal, a Igreja não tinha em si nenhum argumento contra as teorias de Galileu. Sua oposição era, de fato, contra a visão depreciativa da filosofia aristotélica, e as consequências metafísicas e sociais implicadas (como dito no texto anterior, a filosofia de Aristóteles estava de tal modo ligada ao Cristianismo que, naquela época, já a consideravam necessária para a formulação das leis religiosas e morais). As doutrinas de Galileu eram revolucionárias neste ponto, e portanto, perigosas. Além disso, deve-se lembrar que até Newton formular o mecanismo físico da gravidade (71 anos depois da condenação de Galileu), não havia nenhum motivo consistente para acreditar na física galileana. Quando as provas não sustentam a teoria, a resistência é uma atitude justificável até mesmo pela própria ciência.

É preciso também considerar a abordagem sociológica do que estava acontecendo: na sua luta contra o crescimento do protestantismo, a Igreja havia recentemente reafirmado sua base no aristotelismo, assim aceitar as ideias de Galileu era a mesma coisa que dar a vitória para os rivais protestantes. Assim como a Igreja pode ter interpretado a própria iniciativa de Galileu como um ataque premeditado. Outro fato é que na época havia um recorrente conflito entre a elite antiga das Universidades e uma elite mais nova, com tendências mais pragmáticas (a qual Galileu pertencia). A publicação de Galileu foi interpretada como um insulto declarado às elites em voga. Além disso, ambos os lados se rebaixaram a táticas reprováveis: a Igreja lançou mão de métodos desonestos e incitar o rancor pessoal para censurar Galileu; enquanto o próprio usou meios políticos: publicou o livro "Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo", onde há um personagem um tanto irritante chamado "Simplício", que não é ninguém senão uma caricatura do Papa, o mesmo que dantes era seu amigo.

Mesmo assim, Galileu nunca repudiou a sua fé. Afirmou ser cristão e nunca questionou nenhuma doutrina religiosa, apenas a estrutura derivada de Aristóteles que se entranhou de tal modo na religião que era difícil separar as coisas.

Ainda deve-se reconhecer  que os cristãos em geral se opuseram a muitas ideias novas. Isto não é uma deficiência de um povo ignorante e fechado ao progresso, mas sim uma tendência universal de resistir ao novo até que hajam provas suficientes. Os críticos continuam censurando os reformadores por não aceitarem Copérnico, mas se esquecem de que naquela época não havia qualquer motivo para aceitar a teoria, sem provas suficientes. A própria cultura em geral repudiava o copernicanismo. Muitos reformadores daquele tempo foram geocentristas pelo mesmo motivo que os do século seguinte foram newtonianos: apenas estavam aceitando as teorias cientificas que eram reconhecidos e estabelecidos na sociedade.

Mudar conceitos sobre o mundo nunca é fácil. Hoje, parece-nos muito óbvio e aceitável, mas isto é porque fomos ensinados desde crianças sobre o assunto. Entretanto, fatos como o heliocentrismo e a circulação do sangue, por exemplo, demoraram muitos anos para serem aceitos pelas massas.

Se o Cristianismo foi de fato um empecilho para o avanço da ciência, é difícil explicar porque Paracelsus, Boyle, Kepler, Newton e tantos outros escreviam tanto sobre ciência quanto teologia, e incluíam orações e louvores nas suas anotações. Como foi sustentado aqui, a crença religiosa, particularmente a cristã, serviu muito mais como uma motivação do que um empecilho. Newton tinha como objetivo que suas obras fossem utilizadas para a apologética. Mersenne e Descartes esperavam oferecer através de suas obras novas armas para a religião, num tempo em que já começavam a surgir duras críticas contra a mesma.

Conclusão

Já fomos explicados agora sobre a contribuição do Cristianismo para ciência atual. Agora, o que será da ciência sem os seus pressupostos fundamentais? A ciência ainda vive dos restos do apelo cultural herdado pela cristandade, mas até quando?

Em menos de quatrocentos anos conseguiu-se inverter a relação entre a fé e a ciência, e pode ser que agora ela se auto-sustente apenas pela curiosidade intelectual e justificada pelo sucesso da tecnologia. Entretanto, com toda a sua base filosófica repudiada, inclusive a principal: que a natureza é regida por leis.

David Hume (1711-1776), o primeiro filósofo assumidamente ateu, negava toda a racionalidade da ciência, já que o empirismo puro não oferece bases para princípios tão fundamentais como, por exemplo, a causa e efeito. Por isso, deve existir uma "fé científica" na ordem da natureza. Resta a dúvida a respeito de quanto tempo esta "fé científica" sobreviverá sem a base racional oferecida pelo cristianismo.

Abraços, Paz de Cristo.

18 comentários :

  1. Galileu simboliza a sabedoria cientifica perseguida pelo fanatismo, e é o exemplo do mártir que por ameaçar os interesses da Igreja foi impedido de divulgar os seus conhecimentos.
    Ao duvidar da infalibilidade da Igreja, Galileu quase foi queimado, pois a Igreja temia que a ciência, ao permitindo que o povo pensasse por si mesmo, arruinasse a luta que os católicos travavam contra o protestantismo, e destruísse as mitologias religiosas.
    A Igreja forçou Galileu negar suas convicções, em 1633 Galileu foi coagido se retratar por ter publicado textos em italiano, a língua do povo, e não em latim, a língua destinada aos sábios e ao clero; assim como, ter revelado as suas descobertas, e ter tido a convicção de que a Terra gira em torno do Sol.
    Embora a Bíblia tenha sido escrita numa época primitiva, e corroída tanto pela corrupção como pelo fanatismo, os devotos insiste que a Bíblia foi inspirada por Deus, e seria um DOCUMENTO DE FÉ PÚBLICA.LH

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  2. Lisandro Hubris,
    às vezes parece que você simplesmente não leu o texto. Acabou de desrefutar o que eu refutei, entretanto foram apenas palavras, e nenhuma argumentação baseada em fontes. Esta sua versão está quase que totalmente desacreditada no meio acadêmico, desde que o professor de História italo-americano do MIT (Massachussets Institute of Technology) publicou o livro "The Crime of Galileo", sobre o qual comentei acima.

    E o seu último parágrafo, foi tanto desconexo com o texto (ou seja, apenas uma acusação descomprometida extra) quanto mais uma vez isento de argumentações ou provas. Afinal, é o acusador que sempre leva o ônus da prova.

    Abraços, Paz de Cristo.

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  3. Na velha empreitada em mostrar (está FÁCIL demais) que seu blog é só a expressão da sua burrice, vamos a mais uma pérola da sua idiotice:

    "David Hume (1711-1776), o primeiro filósofo assumidamente ateu, negava toda a racionalidade da ciência, já que o empirismo puro não oferece bases para princípios tão fundamentais como, por exemplo, a causa e efeito. Por isso, deve existir uma "fé científica" na ordem da natureza."

    É por essa falta de "princípios fundamentais" que cientistas ruins citam Hume como fonte :
    "Your exposition is also quite right that positivism suggested rel. theory, without
    requiring it. Also you have correctly seen that this line of thought was of great
    influence on my efforts and indeed E. Mach and still much more Hume, whose
    treatise on understanding I studied with eagerness and admiration shortly before
    finding relativity theory."

    Claro, o cientista que escreveu isso era bem ruim, para atribuir a Hume, uma influência importante nos resultados dele ...

    Seu blog sempre decepcionando e mostrando o seu fanatismo religioso TOSCO.

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  4. "(...) seu blog é só a expressão da sua burrice (...) pérola da sua idiotice"

    Você pode sempre mandar críticas construtivas, mas ofender é indigno de um ser humano adulto que esteja com boas intenções.

    Não entendi exatamente qual é a sua crítica em relação a David Hume. Aliás, você conhece algum filósofo ateu que dê uma sustentação válida para os princípios da ciência? Seria muito bom que você me informasse, assim me permitira refinar meu argumento sobre a falta de fundamentação filosófica da ciência do ponto de vista ateu.

    "Seu blog sempre decepcionando e mostrando o seu fanatismo religioso TOSCO."

    Eu acho que pra você me chamar de fanático, não deve conhecer a definição correta da palavra fanatismo. Diga-me por favor o que é fanatismo.

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  5. Vou chorar pq vc ficou magoadinho ...

    ACORDA BURRALDO - se vc não entendeu, foi seu idolatrado Einstein quem escreveu a carta. Hume é um dos principais filósofos da ciência, quer sua ignorância fanático religiosa goste ou não.

    Depois vc não entende pq MERECE as críticas.

    Vai chorar de novo ?
    Sinceramente, boa intenção não existe no blog.

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  6. E só para vc aprender sobre ciência: vá ler Popper e Kuhn. Dois ATEUS, seu acéfalo ...
    Vá ler Bertrand Russelll ...

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  7. Anônimo,

    obrigado pelas sugestões. Quanto à linguagem ofensiva, se você mandar mais comentários assim, não vou hesitar em apagar. Quero que todos participem, contanto que sejam civilizados.

    Abraços, Paz de Cristo.

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  8. E quem disse que vc é civilizado ?
    Veja só o que VC faz:
    1- Promove homofobia
    2- Vende pseudociência
    3- Ataca a ciência
    4- Mente sobbre o que é ateísmo
    5- Sobrevaloriza sua fé
    6- Vende que política conservadora seja ciência
    7- Promove blogs de fanáticos
    8- Faz PREGAÇÃO explícita
    9- Mente sobre a natureza do seu blog

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  9. O primeiro comentarista se esqueceu ou omitiu que Kepler foi excomungado pela igreja protestante ...

    Crendice religiosa, igual a sua e a dele são inimigos da ciência.

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  10. Anônimo,
    se você tivesse a coragem de revelar seu nome, você até mereceria um prêmio...

    nunca vi tanta trollagem, falácias ad hominem e acusações infundadas em um só comentário. Você bateu o recorde!!!!

    Continue assim, a não ser que queira ser reconhecido como uma pessoa civilizada.

    Abraços, Paz de Cristo.

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  11. Embora eu acredite que você esteja blefando, apenas para que as coisas fiquem claras, peço que você mostre os TRECHOS EXATOS do meu blog onde eu faço:

    1- Apologia à homofobia (você sabe o que é homofobia?)
    2- "Venda" de pseudociência
    3- Ataques a ciência
    4- Mentir sobre o que é ateísmo (salvo as ironias do infeliz post das 20 coisas... e mesmo assim, você sabe a diferença entre ironia e mentira?)
    5- Sobrevalorização da minha fé (Isto eu assumo que faço, tudo bem...)
    6- Vender que política conservadora é ciência
    7- Promover blogs de fanáticos (aí você pode chamar quem quiser de fanático, né... não creio que você saiba a definição dessa palavra)
    8- Fazer PREGAÇÃO explícita (eu ri quando li isso)
    9- Mentir sobre a natureza do meu blog (sugestão: leia a página de apresentação do meu blog, onde eu falo sobre as minhas intenções nele)

    Abraços, Paz de Cristo.

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  12. creio que ele não as encontrou...
    muito bom o post ^^

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  13. Olá...
    só pra contestar oq o anonimo disse, Galileu não foi martirizado! Galileu não passou nem um minuto na prisão, nunca foi torturado, não lhe foi impedido encontrar colegas e religiosos (encontrá-lo-ão homens do calibre de Hobbes, Torricelli e Milton), de escrever, de estudar e de publicar, tanto que sua obra-prima científica – discursos e demonstrações matemáticas em torno de duas novas ciências – remonta a 1638, cinco anos após a condenação.
    Morreu com a bênção do Papa e recebendo a indulgência plenária, sinal de que a Igreja certamente não o considerava um adversário nem ele considerava a Igreja como tal.

    Fonte: http://christusveritas.altervista.org/Il_caso%20Galilei.htm,

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  14. Disse que não ia debater, mas... acabei dando uma lida transversal no texto e nas conclusões. Vejamos:

    Não vou comentar os argumentos de que os pressupostos da ciência foram fornecidos pelo cristianismo, já que não li esses argumentos e não identifiquei a época da ciência considerada. E também não vi os argumentos que demonstrem que esses pressupostos foram abandonados pela ciência atual.

    Apenas acho sugestivo que: "apenas o fato de que a ciência moderna surgiu numa cultura impregnada pela fé cristã já é sugestivo". Não seria igualmente sugestivo que a ciência continuou operando, até hoje, numa cultura impregnada pela fé cristã?

    Então, para não alongar, vamos à conclusão: "Agora, o que será da ciência sem os seus pressupostos fundamentais?"

    Não se preocupe! Se a ciência abandou os pressupostos cristãos e se ela continua operando, então ela já arranjou outros pressupostos fundamentais!

    Segundo Kuhn (A estrutura das revoluções científicas), há momentos em que ocorrem revoluções no pesamento científico que forçam a comunidade de profissionais ligados a uma ciência, a "reformularem o conjunto de compromissos em que se baseia a prática dessa ciência". Estaríamos vivendo um momento desses. E só isso!

    Observe que existiu ciência (lato senso) antes do Cristianismo e, provavelmente, existirá ciência após o Cristianismo. A preocupação colocada no texto me parece, pelo lado da ciência, injustificada.

    Agora o que me deixou curioso, foi a sugestão do texto de que a ciência como um todo, ou seja o conjunto das várias ciências, o pensamento científico no seu todo, está vivendo um momento uma crise; ou na terminologia de Kuhn, uma nova revolução. Isso é novidade para mim. Mas... que seja bem vinda!

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    1. O que eu acho sobre isso (digo 'acho' porque não me sinto preparado para dar um julgamento profundo sobre o assunto, mas pretendo em breve estudar filosofia da ciência mais a fundo) é que a ciência hoje em dia está funcionando e funcionando muito bem, mas ela não possui a base filosófica para isso. Isso acontece porque ela foi construída dentro de uma cosmovisão teísta (já que você não leu os argumentos, talvez não entenda a minha linha de raciocínio aqui) e hoje em dia a grande maioria dos cientistas é naturalista. Dentro da visão naturalista a inteligência humana não deveria ser uma fonte confiável de informação sobre o mundo, portanto os cientistas vivem dentro de uma contradição. (Esse argumento é um pouco mais elaborado e está em outro artigo aqui do blog: http://www.respostasaoateismo.com/2011/10/evolucao-versus-naturalismo.html).

      Sobre o que você fala especificamente quando diz que existiu ciência antes do cristianismo? Lembre-se que como "ciência" estou entendendo um sistema de conhecimentos adquiridos pelo método científico. O método científico foi desenvolvido entre os séculos XIII e XVI principalmente por Roger Bacon, Galileu e Descartes que, diga-se de passagem, eram cristãos.

      Abraços, Paz de Cristo.

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  15. Beleza! Vamos, então, aguardar você se aprofundar um pouco mais na "Filosofia da Ciência". Isso vai nos ajudar nas discussões.

    Quanto à ciência antes do Cristianismo, usei o "lato senso", né? É que não há uma definição consensual para ciência. Então sempre que usamos o termo num artigo, torna-se necessário uma definição de trabalho. É o que você faz agora no comentário (mas acho que não no texto).

    Essa ciência a que você se refere é a chamada, convencionalmente, de Ciência Moderna. Tal denominação pressupõe a existência de ciência antes do chamado "Método Científico".

    Como sugestão, você poderia abrir um post tipo "Contribuição da Filosofia Cristã para a Ciência" (é só um sugestão de nome!). Inicialmente poderia situar a ciência numa perspectiva histórica, discutindo as contribuições de diferentes filosofias para, depois, concentra-se na contribuição cristã. Teria interesse em acompanhar.

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    Respostas
    1. Eu pretendo fazer a disciplina de filosofia da ciência na faculdade antes de me formar... mas ainda falta algum tempo.

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