segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Ensaio de C. S. Lewis sobre o Amor de Deus



Esta é a terceira parte da atual série de postagens. Aqui Lewis começa a falar sobre o amor de Deus, tentando achar uma forma de explicá-lo com palavras (o que talvez seja impossível), pelo menos de uma forma que seja suficiente ao entendimento dos próximos pontos.

Abraços, Paz de Cristo.

Quando nos referimos à bondade de Deus hoje, estamos indicando quase que exclusivamente seu amor; e nisto talvez tenhamos razão. E por amor, neste contexto, a maioria de nós  quer dizer bondade - o desejo de ver outros felizes, e não a própria pessoa; não feliz deste ou de outro modo, mas apenas feliz. O que realmente nos satisfaria seria um Deus que dissesse a respeito de qualquer coisa que gostássemos de fazer: "Que importa se isso os deixa contentes?" Queremos, na verdade, não tanto um Pai Celestial, mas um avô celestial - uma benevolência senil que, como dizem, "gostasse de ver os jovens se divertindo" e cujo plano para o universo fosse simplesmente que se pudesse afirmar no fim de cada dia: "todos aproveitaram muito". Não são muitos os que, devo admitir, iriam formular uma teologia exatamente nesses termos: mas um conceito semelhante espreita por  trás de muitas mentes. Não me julgo uma exceção: gostaria imensamente de viver num universo governado de acordo com essas linhas. Mas já que está mais do que claro que não vivo, e já que tenho razões para crer, mesmo assim, que Deus é Amor, chego à conclusão que meu conceito de amor necessita de correção.

Eu poderia, sem dúvida, ter aprendido até mesmo dos poetas que Amor é algo mais rigoroso e esplêndido do que a simples bondade: que até o amor entre os sexos é, como em Dante, "um senhor de terrível aspecto". Existe bondade no amor, mas amor e bondade não são confinantes, e quando a bondade (no sentido dado acima) é separada dos demais elementos do Amor, ela envolve uma certa indiferença fundamental ao seu objeto, e até mesmo algo semelhante ao  desprezo em relação a ele. A bondade consente com facilidade na remoção do seu objeto - temos todos encontrado indivíduos cuja bondade para com os animais constantemente os leva a matá-los a fim de que não sofram. A bondade desse tipo não se preocupa com o fato de o seu objeto tomar-se bom ou mau, desde que escape ao sofrimento. Como as Escrituras afirmam, os bastardos é que são estragados: os filhos legítimos, que devem continuar a tradição da família, são corrigidos (Hb 12.8). Para aqueles com quem não nos preocupamos absolutamente  é que exigimos felicidade sob quaisquer termos: com nossos amigos, nossos entes queridos, nossos filhos, somos exigentes e preferimos vê-los sofrer do que ser felizes em estilos de vida desprezíveis e desviados. Se Deus é amor, Ele é, por definição, algo mais do que simples bondade. E, ao que parece, de acordo com todos os registros, embora tenha com freqüência nos reprovado e condenado, jamais nos considerou com desprezo. Ele nos prestou o intolerável cumprimento de nos amar, no sentido mais profundo, mais trágico e mais inexorável.

A relação entre Criador e criatura é naturalmente única e não pode ser comparada a qualquer das demais relações entre uma criatura e outra. Deus está, ao mesmo tempo, mais distanciado e mais próximo de nós do que qualquer outro ser. Ele está mais distante de nós porque a completa diferença entre aquilo que possui o Seu princípio de existência em Si Mesmo e aquilo a que a existência está sendo transmitida é tal que comparada a ela a diferença entre um arcanjo e um verme é praticamente insignificante. Ele faz, nós somos feitos: Ele é o original, nós os derivados. Mas, ao mesmo tempo, e pela mesma razão, a intimidade entre Deus e até mesmo a menor das criaturas é mais próxima do que qualquer outra que as criaturas possam alcançar umas com as outras.

Nossa vida, a qualquer momento, ée suprida por Ele: nosso pequenino e milagroso poder de livre-arbítrio só pode operar nos corpos que a Sua energia contínua mantém vivos - nosso próprio poder de pensar é o Seu  poder comunicado a nós. Uma relação assim singular só pode ser entendida através de analogias: dentre os vários tipos de amor conhecidos entre as criaturas, chegamos a  um conceito inadequado, mas útil, do amor de Deus pelo homem.

O tipo mais inferior, que é chamado de "amor" apenas como uma extensão da palavra, é aquele que o artista sente por um artefato. A relação entre Deus e homem é assim retratada na visão de Jeremias sobre o oleiro e o barro (Jr 18), ou quando o apóstolo Pedro fala da igreja inteira como de um prédio no qual Deus trabalha, e dos membros individualmente como sendo pedras (1 Pe 2.5). A limitação de tal analogia é, naturalmente, que no símbolo o paciente não tem percepção, e que certas questões de  justiça e misericórdia surgidas quando as "pedras" estão realmente "vivas" permanecem, portanto, não-representadas. Mas, de toda forma, trata-se de uma analogia importante. Nós somos, não em metáfora mas verdadeiramente, uma obra-de-arte divina, algo que Deus está fazendo, e portanto, algo com o qual ele não ficará satisfeito até que possua umas tantas e determinadas características. Defrontamos de novo aqui com aquilo a que dei o nome de "elogio insuportável". O artista pode não se preocupar muito com o esboço feito com negligência para divertir uma criança: ele pode deixá-lo ficar como está, mesmo que não seja exatamente aquilo que pretendia que fosse. Mas em relação ao grandioso quadro de sua vida - o trabalho que ama, embora de forma diversa, tão intensamente como o homem ama uma mulher ou a mãe a um filho – ele se aplicará intensamente - e iria sem dúvida dar muita preocupação ao quadro se este tivesse sensibilidade. Podemos imaginar um quadro sensível, depois de ter sido apagado e raspado e recomeçado pela décima vez, desejando não passar de um esboço simples  feito num minuto. Da mesma maneira, é natural para nós desejar que Deus nos traçasse um destino menos glorioso e menos árduo; mas, assim, não estaremos então desejando mais amor e sim menos amor.

Outro tipo é o amor de um homem por um animal – relação esta usada freqüentemente nas Escrituras para simbolizar a relação entre Deus e os homens; "somos o seu povo e as ovelhas do seu pasto" (|Sl 90.7). Esta é, em certo sentido, uma analogia melhor do que a precedente, porque a parte inferior é perceptiva, embora indiscutivelmente inferior: mas é pior pelo fato de o homem não ter feito o animal e não compreendê-lo inteiramente. Seu grande mérito está em que a associação (digamos) de homem e cão tem como objetivo principal o bem do primeiro: o homem domestica o cão para que possa primeiro amá-lo, e não para que este o ame, e para que o animal o sirva, e não para que ele possa servi-lo. Todavia, ao mesmo tempo, os interesses do cão não são sacrificados aos do homem. O propósito final (de que possa amá-lo) não é alcançado plenamente a não ser que o animal também, a seu modo, o ame; nem o cão pode servi-lo a não ser que ele, de uma forma diferente, o sirva. Justamente porque o cão, segundo os padrões humanos, é uma das "melhores" criaturas irracionais, e um objeto digno de ser amado pelo homem -  naturalmente naquele grau e tipo de amor apropriados para tal objeto, e não com tolos exageros antropomórficos - o homem interfere no cão e o torna mais digno de amor do que ele o era na sua simples natureza. Em seu estado natural ele cheira e tem hábitos que frustram o amor humano: o homem então o submete a treinamentos para que tenha um comportamento adequado dentro de casa, dá-lhe banhos, ensina-o a não roubar, capacitando-o assim para que possa ser amado completamente. Para o filhote, todo o processo pareceria, caso fosse um teólogo, lançar graves dúvidas sobre a "bondade" do homem: mas o cão adulto e treinado, maior, mais saudável e com um período de vida mais longo do que o cão selvagem, e admitido, como se o fosse, por assim dizer, pela Graça, a um mundo de afeições, lealdades, interesses e confortos inteiramente além de seu destino animal, não teria tais dúvidas. Deve ser notado que o homem (e estou falando apenas do homem bom) tem todo esse trabalho com o cão, e  causa todo esse sofrimento a ele, apenas por se tratar de um animal que se acha no alto da escala - por ser tão digno de amor que vale a pena torná-lo ainda mais digno desse amor. Ele não dá treinamento doméstico à lacraia nem banho à centopéia. É possível que desejássemos, na verdade, que Deus se incomodasse tão pouco conosco que nos deixasse por nossa própria conta, a fim de seguirmos nossos impulsos naturais – que ele desistisse de nos transformar em algo tão diverso de nosso "eu" natural: mas, de novo, não estamos pedindo mais amor e sim menos.

Uma analogia mais nobre aprovada pelo tom constante dos ensinamentos do Senhor é aquela que existe entre o amor de Deus pelo homem e o amor de um pai pelo filho. Toda vez em que ela é usada porém, isto é, toda vez que repetimos a Oração do Senhor, deve ser lembrado que o Salvador fez uso dela num momento e lugar em que a autoridade paternal tinha uma posição muito mais elevada do que nos tempos modernos. Um pai quase se desculpando por ter trazido seu filho ao mundo,  temeroso de restringi-lo para que não cresça com inibições ou até mesmo de discipliná-lo a fim de não interferir em sua independência mental, é um símbolo bastante precário da Paternidade Divina. Não estou discutindo aqui o fato de a autoridade dos pais, em sua expressão antiga, ter sido uma coisa boa ou má. Estou apenas explicando o que o conceito de Paternidade teria significado para os primeiros ouvintes do Senhor, e na verdade para os seus sucessores durante muitos séculos. Ficará ainda mais simples se considerarmos como o Senhor (embora, em nossa crença, um só com o  Pai e co-eterno com Ele como nenhum filho terreno o é com um pai terreno) considera sua própria Filiação, submetendo completamente Sua vontade à vontade paterna, nem sequer permitindo que o chamem "bom" porque BOM é o nome do Pai (Mt 19.17). Amor entre pai e filho, neste símbolo, significa essencialmente um amor cheio de autoridade de um lado, e amor obediente do outro. O pai faz uso de sua autoridade para transformar o filho na espécie de ser humano que ele, com justiça, e em sua sabedoria superior, quer que ele seja. Mesmo em nossos dias, embora alguém possa dizer tal coisa, essa pessoa não estaria dizendo nada ao afirmar: "Amo meu filho, mas não me importa quão corrupto ele seja, contanto que se divirta".

Chegamos finalmente a uma analogia perigosa e de aplicação muito mais limitada, que, todavia, acontece ser a mais útil para o nosso propósito especial no momento - quero dizer, a analogia entre o amor de Deus pelo homem e o amor deste por uma mulher. Ela é usada livremente nas Escrituras. Israel é uma esposa infiel, mas seu Marido Celestial não pode esquecer-se dos dias felizes do passado: "Lembro-me de ti, da tua afeição quando eras jovem, e do teu amor quando noiva,  e de como me seguias no deserto". (Jr 2.2)  Israel é a noiva pobre, perdida, que seu amado encontrou abandonada ao lado do caminho e vestiu e adornou, tornando-a digna de amor, mas mesmo assim ela lhe foi infiel (Ez 16.6-15). "Infiéis" é o nome que nos dá o apóstolo Tiago, porque nos voltamos para a "amizade do mundo", enquanto Deus "com ciúme anseia pelo espírito que fez habitar em nós". (Tg 4.4,5) A Igreja é a noiva do Senhor a quem ele  ama de tal forma que não pode suportar qualquer mancha ou ruga nela (Ef 5.27). A verdade que esta analogia serve para enfatizar é que o amor, por sua própria natureza, exige o aperfeiçoamento do ser amado; que a simples "bondade" que tudo tolera, menos o sofrimento em seu objeto, está, nesse aspecto, no pólo oposto do amor. Quando nos apaixonamos por uma mulher, deixamos de amá-la quando está limpa ou suja, íntegra ou desonrada? Não é então que na realidade começamos a nos preocupar? A mulher considera sinal de amor num homem quando ele não se importa com a sua aparência? O amor pode, de fato, continuar amando mesmo quando a beleza dela se foi; mas não porque está perdida. O amor pode perdoar todas as enfermidades e continuar amando a despeito delas: mas o amor não pode deixar de desejar a sua remoção. O amor é mais sensível do que o próprio ódio em relação a qualquer mancha no ser amado; o seu "sentimento é mais suave e sensível do que os chifres delicados dos caracóis". De todos os poderes é ele o que mais perdoa, mas o que menos desculpa: fica satisfeito com pouco, mas exige muito.

Quando o cristianismo diz que Deus ama  o homem, isso significa que Ele o ama realmente; não se trata de um interesse indiferente quase um "desinteresse" em nosso bemestar, mas que, numa verdade terrível e surpreendente, somos os objetos do seu amor. Você pediu um Deus de amor, e já tem. O grande espírito que invocou tão levianamente, o "Senhor de terrível aspecto", está presente: não uma benevolência senil que sonolentamente deseja que você seja feliz à sua própria moda, nem a gélida filantropia de um magistrado consciencioso nem mesmo o cuidado de um  hospedeiro que se sente responsável pelo conforto de seus hóspedes, mas o próprio fogo consumidor, o Amor que fez os mundos, persistente como o amor do artesão pela sua obra e despótico como o amor do homem por um cão, providente e venerável como o amor do pai pelo filho, ciumento, inexorável, exigente, como O amor entre Os sexos.

Como isto pode ser, não sei: supera  nosso poder de raciocínio explicar como quaisquer criaturas, para não dizer criaturas como nós, possam ter um valor tão prodigioso aos olhos de seu Criador. Trata-se certamente de um peso de glória não só além de nossos méritos mas também, exceto em raros momentos de graça, além de nosso desejo; estamos inclinados, como as donzelas na velha peça teatral, a protestar contra o amor de Zeus (Prometheus Vinctus, 887-900). Mas o fato parece Indiscutível. O Impassível fala como se sentisse paixão, e aquilo que contém em si mesmo a causa de sua própria e de outras bênçãos, fala como se pudesse sentir-se carente e ansioso.

14 comentários :

  1. Prezado David, tecerei alguns comentários, desta vez não-históricos, sobre o texto de C. S. Lewis. São um pouco longos, como é normal em meus textos, e puramente baseados em minha visão pessoal e pagã da felicidade e do amor.

    O autor estabelece que o Deus único quer ver as pessoas felizes, mas isso não significa vê-las contentes. Algumas vezes, pode significar vê-las sofrer. Aqui, sutilmente, começa a surgir uma ideia de disciplina intrínseca à felicidade, como se para ser feliz fosse obrigatório ser obediente, pois, caso as regras não sejam obedecidas, o sofrimento será necessário para que a pessoa alcance a felicidade.

    A felicidade é humanamente ligada à plenitude do ser virtuoso, ou seja, à capacidade de bem fazer, bem sentir e bem ser conforme si mesmo. Ser feliz é ser pleno, ou melhor, estar pleno, viver plenamente, agir em plenitude. Em outras palavras, é estar bem consigo. Neste sentido, ninguém faz ninguém feliz, felicidade é uma busca pessoal, é uma manutenção; não um objetivo a ser alcançado, mas algo a ser cultivado.

    No texto, torna-se claro que o amor do Deus único é corretivo, disciplinador. Deus ama e por esse amor quer que as suas criaturas sejam de uma determinada maneira. Deus ama ao ponto de proibir sua criatura de viver “estilos de vida desprezíveis e desviados”, mesmo que eles lhe tragam a felicidade. Segundo esse pensamento, a moral de Deus torna-se a expressão de seu amor. A obediência a essa moral é que dá aos homens o caminho da virtude. E, quer queiramos ou não, Deus esperará sempre de nós o cumprimento dessa moral, pois Ele nos ama. Deus nos ama mesmo sendo como somos, mas deseja que nos modifiquemos. Essa é a lógica do amor do Deus cristão.

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    O amor se manifesta de muitas formas. Como Ágape, ele une famílias e pessoas, gera devoção e dedicação, estimula o dever e promove a união. Como Filia, ele cria laços de amizade e cumplicidade, estimula o companheirismo e a camaradagem, cria o espírito de grupo. Como Erosele é a força de atração entre as pessoas e os planetas; é o amor mais universal, pois estimula a ligação e a reprodução; é o amor que cria vida, é o amor responsável por tudo que existe. Sem Eros, o universo não teria sido criado. Eros é força, é natural, impulsivo, não racional, mas inteligente. Adotado por Afrodite, Eros torna-se o Cupido da atração sexual, insinuante, motivada pela beleza e pela paixão.

    Para o cristianismo, há uma dificuldade muito grande de associar o amor de Deus a Eros. Os cristãos tendem a valorizar mais a Ágape e Filia que a Eros, pois associam este último à libidinagem, lascívia e luxúria. Deus, como detentor da suprema virtude e justiça, jamais poderia se aproximar da libertinagem e do impulso sexual. Por isso, Deus é amor, mas não é prazer. O prazer é a satisfação de um impulso, de um desejo, muito mais associado a Eros que às outras formas de amor. O céu regozija-se por fertilizar a terra e a natureza fecundada sorri após a chuva. Por Eros nasce e se multiplica a vida. A fertilidade cristã é um comando de Deus, mas sem Eros, é imposta e fria. O Deus cristão disciplinador dita regras, enquanto Eros estabelece as ligações entre os seres. O Deus cristão é taxativo, enquanto Eros é irresistível.

    O Deus cristão pretende agir em cada indivíduo segundo sua obra. Há, no imaginário cristão, a concepção de que existe uma missão para cada pessoa neste mundo. Agir em sintonia com Deus seria cumprir essa missão da forma mais próxima possível ao desejo Dele. A ideia de “obra de arte divina” comentada por Lewis está mais próxima de um conceito pagão do que de um cristão, talvez porque Lewis tenha sido muito influenciado pelo paganismo em sua vida – principalmente o nórdico pelas obras de Richard Wagner – mesmo tendo sido um ferrenho defensor do cristianismo. O conceito cristão está mais voltado à noção de que seríamos “ferramenta divina”, uma ideia que soaria mal em um discurso de apologética, mas que mesmo assim é sensível nas passagens bíblicas citadas por Lewis: somos o barro que Deus, o oleiro, utilizará para criar seus utensílios. A insistência de Deus para que sejamos melhores, mesmo a muitas custas, que para Lewis seria uma demonstração de seu amor, é fruto do seu desejo de servirmos ao propósito que Ele designou.

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    Há na concepção cristã uma hierarquia implícita entre as espécies que coloca o ser humano como o animal mais próximo de Deus. Por isto a preferência de Deus pelos homens e sua constante interferência nos assuntos humanos, buscando sempre orientá-los para o caminho mais próximo de seus desígnios. A comparação do cachorro e a centopeia é facilmente transferível para a comparação entre os homens e os outros animais. Mesmo sendo absoluto e infinito, Deus não perderia seu tempo e atenção com os homens se eles não fossem tão especiais, este é o pensamento cristão.

    A ideia de que o ser humano está acima do resto dos animais é fruto de pura egolatria humana, não dos desígnios divinos. Toda a natureza está diretamente ligada ao divino; mas, por algum motivo, em sua busca por crescimento e discernimento, o homem perdeu essa ligação. Isto faz do homem um ser especial por sua singularidade, mas não por sua grandeza. Prometeu compadeceu-se da humanidade ao ponto de trazer-lhe o fogo divino. O fogo representa a razão, o livre-arbítrio, a busca pelo desenvolvimento e ao mesmo tempo o instrumento usado para esse desenvolvimento. O fogo deu ao homem a tecnologia que pertencia somente aos deuses: a tecnologia da criação. O fogo acende a mente inventiva dos homens e os faz buscar sempre a melhoria de suas vidas. Só que esta é ao mesmo tempo a sua ruína: a insatisfação constante fez o homem perder sua felicidade perene. Isto é representado pela punição de Zeus a Prometeu: a agonia dos homens seria interminável, pois sempre a insatisfação devoraria qualquer tentativa de regeneração da felicidade humana.

    Em suas afirmações, Lewis ressalta a característica disciplinadora do Deus cristão, vendo o Deus único como um patriarca da antiguidade, a autoridade máxima nos assuntos de família. Evidencia-se, muito mais que o zelo pela prole, a autoridade paterna, a obediência sem questionamento. A punição para o filho que desobedecia ao patriarca era, em alguns casos, o exílio da família. A punição para o homem que desobedece a Deus é o exílio de sua presença, ou melhor, o lançamento no inferno. A acepção desse conceito é simples. A reflexão sobre ele, não. Lembro a frase de um ateísta que disse uma vez: “Se Deus não quisesse que o desobedecêssemos, não nos teria dado a capacidade de pensar.” A associação da autoridade divina com o livre-arbítrio é um problema que vem tentando ser solucionado (em vão) desde Santo Agostinho.

    Nas Escrituras parece haver uma preocupação quase obsessiva pela fidelidade. Não que no paganismo o amor deva ser infiel, absolutamente. O mito da infidelidade de Zeus só é compreensível no contexto de um deus celeste fecundador da terra geradora de vida. Mas, nas Escrituras, o Deus único exige a fidelidade dos homens desde os tempos mais remotos da Aliança no Sinai. Difícil dizer até se foi uma aliança consensual, pois que Deus manifestou-se apenas aos patriarcas e profetas, a quem foi incumbido o dever de convencer o restante do povo. E este convencimento mundial, quer por uma sedução de felicidade, quer por uma imposição de autoridade, é uma das coisas que mais caracteriza o amor erótico de Deus. Deus ama, mas exige fidelidade; é um esposo devoto, mas ciumento.

    Há um mito de Eros que é fundamental para a compreensão do amor erótico. Em uma das versões em que Eros é filho de Afrodite, a deusa se queixa a Têmis que seu filho não crescia. Têmis responde-lhe que falta à criança um companheiro. Eis que Afrodite e Ares concebem Anteros, irmão de Eros e deus da conquista e do convencimento, e o pequeno Eros cresce. Ou seja, o amor só se desenvolve se houver a conquista da pessoa amada. O amor imposto não funciona, não cresce, continua sempre imaturo como uma criança.

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  4. Continuando...

    Nos últimos parágrafos Lewis expõe os aspectos de Ágape, Filias e Eros que, como ele defende em seu texto, o amor de Deus por nós possui. No fim, afirma que esse amor é persistente como Ágape, despótico como Filias e intenso e exigente como Eros. Essa é uma “verdade terrível”, como ele diz de maneira peremptória. Somos obrigados a aceitar e conviver com o amor persistente, despótico, intenso e exigente de Deus.

    A aceitação do amor do Deus único como uma “verdade” só é possível depois da aceitação: 1) da sua existência; 2) do seu amor nestes termos. E isto não é inevitável, está perfeitamente dentro de nosso arbítrio aceitar ou não essa “verdade”. O amor que Deus espera, como todos, deve ser conquistado para não correr o risco de se tornar um amor infantil. Não se admite de Deus um sentimento infantil, mas é isso que se obtém de um amor imposto como verdade. Eros é uma divindade sapeca, imprevisível e indomável.

    No último parágrafo, brilhantemente, Lewis compara a humanidade ao coro da peça de Ésquilo “Prometeu Acorrentado”. Na peça, o coro – que representa de fato a própria humanidade – lamenta o destino de Prometeu, preso a corrente por Hefesto a mando de Zeus, pelos pecados que cometeu por amor à humanidade. Por ignorância de todas as consequências da desobediência de Prometeu, a humanidade repudia o veredicto de Zeus, acusando-o de despotismo, crueldade e inflexibilidade, da mesma forma que a humanidade condena hoje o despotismo de Deus, sem reconhecer que seu desconhecimento do próprio destino cega-a quanto às Suas verdadeiras intenções de amor.

    Sabemos, pelas nossas próprias faculdades mentais, que a ignorância nunca é argumento suficiente para convencer-nos de algo. De fato, somos convencidos quando nossa ignorância é vencida por uma informação que nos faça sentido. Isto coloca Deus em uma situação complicada: seu amor por nós é tão intenso e exigente, mas nós não ficamos convencidos de que esse amor, verdadeiramente, existe. Imaginando que Deus é inabalável por um sentimento tão simplório quanto a rejeição, cabe a Ele apenas a interminável espera do dia, se ele chegar, em que toda a humanidade finalmente ficará convencida de seu amor. Enquanto espera Anteros, Eros permanece infantil e solitário.

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  5. Eu sempre gosto de seus comentários, Fábio, pois são bastante instrutivos (aliás, estou com um e-mail pendente pra te responder, desculpe a demora, não tenho tido tempo para pesquisar sobre aquele assunto e dar uma resposta digna).

    Sobre o primeiro comentário, eu estou em geral de acordo, com algumas ressalvas:

    "Neste sentido, ninguém faz ninguém feliz, felicidade é uma busca pessoal, é uma manutenção; não um objetivo a ser alcançado, mas algo a ser cultivado."

    Eu concordo que a felicidade não é um fim, mas um estado. O livro de Eclesiastes na Bíblia, por exemplo, ensina muito sobre o conceito cristão de felicidade. A felicidade pode ser encarada também majoritariamente como uma busca pessoal; mas não é logicamente necessária a afirmação "ninguém faz ninguém feliz". Pode ser (e eu estou especulando aqui) que a felicidade como um estado dependa da presença ou atitude de um outro ser.

    "Deus ama ao ponto de proibir sua criatura de viver 'estilos de vida desprezíveis e desviados', mesmo que eles lhe tragam a felicidade."

    Aqui eu discordo de que um estilo de vida "desprezível e desviado" possa trazer a felicidade a uma pessoa. Talvez traga uma ilusão de felicidade, em que a pessoa acha que é feliz porque nunca refletiu profundamente sobre sua situação ou nunca conheceu um estado melhor (e possível) do que o atual.

    E quero deixar claro, por fim, que o sentido da vida humana não é a felicidade (como até alguns autores cristãos colocam), mas sim o conhecimento de Deus. Isto está escrito em um outro texto aqui do blog:

    http://respostasaoateismo.blogspot.com.br/2012/03/reflexao-sobre-felicidade-humana.html

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    1. Olá David.

      Não tenha pressa em me responder. Lhe apresentei muita informação naquele e-mail que você provavelmente não tinha. Informação é fundamental para termos uma visão melhor da realidade; mas enfatizo que toda informação que eu apresento é acessível a qualquer pessoa, basta ser insistente e saber o que procurar.

      Você diz: "Pode ser (e eu estou especulando aqui) que a felicidade como um estado dependa da presença ou atitude de um outro ser." Por favor, não confunda felicidade com alegria. Estamos sujeitos às oscilações naturais de alegria e tristeza por reação ao que acontece conosco e com aqueles ao nosso redor. O fato de nos sentirmos tristes momentaneamente por causa de alguém não precisa afetar nossa felicidade. Um casal pode ser feliz junto pelo amor que os une, mesmo brigando de vez em quando. E acho que a felicidade pode ser alcançada mesmo sem a presença de uma outra pessoa. Recentemente soube de um velho japonês que vive sozinho e pelado em uma ilha próxima a Okinawa. Ele se diz feliz.

      Quanto ao estilo de vida "desprezível e desviado", eu lanço aqui uma pergunta: desprezível e desviado para quem? Para Deus, segundo o que ele fala nas Escrituras? Esse é um moralismo religioso, típico das religiões semitas. E sabemos muito bem que a moral é cultural, humana, não divina. As regras morais de hoje são dadas em função de nosso contexto social. As interpretações que os cristãos fazem das regras morais da Bíblia também. Por que os cristãos de hoje repudiam a pedofilia e o incesto? Por que se busca valorizar a mulher na Igreja mesmo com a evidente misoginia pregada por Paulo? São reinterpretações de valores morais antigos em função da visão que temos em nosso tempo.

      O estilo de vida "desprezível e desviado" é um julgamento dado muito mais por alguém que olha de fora do que de alguém que realmente o vive. Há pouquíssimo tempo, o profissional do teatro era visto como um imoral. E algumas pessoas só se sentiam realizadas (felizes) fazendo teatro. Hoje, o homossexual é visto como promíscuo. Eu conheço homossexuais extremamente felizes e que vivem o mesmo relacionamento há mais de 30 anos. No futuro, contra todas as expectativas de muitos cristãos moralistas, eu acredito que a homossexualidade vai deixar de ser um "estilo de vida desprezível e desviado" e passar a ser vista como normal, como o teatro. Mas você pode dizer: o homossexualismo é reprovado pela Bíblia! Comer carne de porco também. Alguém hoje estranha uma pessoa comer bacon por causa disso?

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    2. Seus comentários sobre a felicidade e moralidade se baseiam numa ótica materialista, onde estes conceitos são subjetivos. O cristianismo depende de que ambos estes conceitos sejam definidos de forma objetiva. Quando se define felicidade de uma forma objetiva, estamos dizendo que não basta uma pessoa dizer que se sente feliz para que ela realmente esteja feliz. E quando falamos em moralidade objetiva, estamos dizendo que não basta uma cultura dizer que algo é certo ou errado para que aquilo seja como eles afirmam. Acho que este é um ponto em que a discussão não ajuda muito, pois de fato a objetividade da moral e da felicidade são afirmações metafísicas, que portanto não podem ser provadas. Ainda sim, existem alguns motivos para se acreditar nisso.

      Sobre os exemplos que você citou, eu acredito que mesmo que a sociedade passe a aceitar o homossexualismo como normal, no padrão do cristianismo ele não será, porque lá esta questão é definida claramente. Não acontece o mesmo com o teatro: não há nenhum texto bíblico falando de teatro, por isso a analogia que você fez é indevida. Sobre a carne de porco, interpreta-se que ela foi uma lei com tempo e propósito específicos, que assim como todas as outras obrigações cerimoniais judaicas, perdeu o valor depois de Jesus Cristo.

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    3. Discordo veementemente, David. Meus comentários sobre felicidade e moralidade subjetiva se baseiam em uma ótica individualista, não materialista. O individualismo, como conceito de que cada indivíduo tem sua própria expressão e visão da verdade, surgiu antes do materialismo. Sócrates já buscava, através de sua maiêutica, formas para que cada pessoa encontrasse as respostas por si mesmo, antes de Aristóteles vir com suas ideias materialistas.

      Quando você fala de moralidade objetiva, a imagem que me surge é a de uma moralidade exterior fornecida ao indivíduo. Uma moralidade aceita, não desenvolvida. Não vejo muita diferença em se aceitar uma moralidade de uma cultura ou de uma religião se ambas são coisas externas. A pessoa não participou da formação daquela moralidade, ela a aceitou pronta e acabou. Isso é certo ou isso é errado porque Deus disse.

      Karl Marx tinha um termo ótimo para essa situação. Ele chamava isso de alienação. Alienar é separar o indivíduo da realidade colocando entre eles um intermediário que o abastece com conceitos e ideias.

      Se há uma moralidade objetiva, por que eu e você precisamos ficar aqui discutindo sobre questões morais? Está tudo pronto, respondido. Basta seguir o livrinho de regras que seremos plenamente virtuosos. Mas TODOS têm que seguir o MESMO livrinho de regras, porque qualquer um que esteja fora dele não tem virtude nem moral para nós. O caminho da felicidade está bem definido e é ÚNICO, PARA TODOS. Não precisamos buscá-lo por nós mesmos, não precisamos assumir o fardo de ter que decidir nosso destino. Isso é alienação. Chegar para alguém e o convencer que ele não é feliz segundo os NOSSOS termos, mesmo que a pessoa se sinta feliz, é aliená-la. Nós seremos para ela a referência de felicidade, não ela mesma. E como os marxistas sabem muito bem, a alienação faz parte de um processo de controle.

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    4. OK, desculpe a minha imprecisão em relação ao termo correto. Mas é que, na prática, o ponto de vista materialista equivale ao individualista, neste caso.

      Interessante a sua comparação entre a moralidade objetiva e a alienação. Mas o problema é que toda a teoria de Marx pressupõe o materialismo, e consequentemente nega a moralidade objetiva. Se existe uma moralidade, então apresentá-la a um indivíduo não seria "separar" o indivíduo da realidade, mas sim inserí-lo nela. A resolução deste problema está totalmente condicionada à existência (ou não) de uma moralidade objetiva. Se ela existe, se torna um ótimo argumento para o teísmo, mas se ela não existe, é um bom argumento para o materialismo histórico de Marx, por exemplo.

      Abraços, Paz de Cristo.

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    5. errata: "Se existe uma moralidade OBJETIVA, então apresentá-la (...)"

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    6. Sim, a teoria de Marx partiu de um contexto materialista. Mas o marxismo aplica as teorias de Marx à situações modernas e muitos dos seus conceitos servem para a nossa realidade do século XXI.

      Ah sim, repare no que eu falei, "a NOSSA realidade". A nossa realidade é bem diferente da realidade de Marx do século XIX. A nossa realidade é bem diferente da realidade de um monge lá no alto do Tibet, mesmo nos dias de hoje. A nossa realidade é bem diferente da realidade de uma tribo da Amazônia. E cada uma, obviamente, possui a sua moralidade. Você propõe uma inserção na realidade através de uma moralidade. Logo, uma moralidade objetiva levaria a uma realidade objetiva, ao meu ver. Agora, imagine se inserirmos, como você diz, todos esses que eu falei, em uma realidade objetiva: a realidade do cristianismo. Estaremos inserindo-os na realidade, ou na realidade do cristianismo? Lembra dos jesuítas? Sua intenção com os índios foi justamente essa. A realidade deles ficou melhor?

      Às vezes eu vejo nos discursos cristãos uma mensagem implícita do tipo: "Vamos uniformizar o mundo! Vamos igualar todas as sociedades!" Marx talvez fosse adorar isso.

      Daí, você diz que a solução desse problema seria a existência (ou não) de uma moralidade objetiva. Objetiva, ou talvez, melhor dizendo, fundamental. Ou melhor ainda, uma moralidade fundamentalista. Sim, meu caro, esse é o princípio do fundamentalismo. E o fundamentalismo faz tão mal...

      Se a sua moral objetiva é objetiva para você, ela tem validade para você. Você tem todo o direito de acreditar nela e segui-la. Só não queira que todos tenham a mesma moral objetiva, nós não temos. Um fundamentalista islâmico tem uma moral objetiva bem diferente da sua. Mas ele acredita tanto nela, mas tanto, que é capaz de morrer por ela, levando com ele algumas centenas de pessoas inocentes. O que você seria capaz de fazer pela sua?

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    7. O exemplo de catequização dos indios, ou até dos povos bárbaros da Europa sempre é um exemplo usado contra o cristianismo. Eu a certo ponto discordo do método que foi utilizado (ou que dizem que foi utilizado). Nada que seja imposto como uma obrigação a uma sociedade vem a funcionar. Os valores cristãos é que devem ser ensinados, não os costumes e hábitos do povo que ensina. Os trabalhos missionários de hoje em dia tem uma preocupação maior com isso, de preservar a cultura do povo que está sendo trabalhado.

      Eu não acredito que a mensagem do cristianismo seja "vamos uniformizar o mundo", pelo menos não do jeito que você implicitou, impondo uma realidade estranha a todos os povos. O objetivo básico do cristianismo é levar o homem ao conhecimento de Deus, e quando isto acontece, nada precisa ser imposto, pois à medida que Deus se faz conhecido a nós, construímos nossa noção sobre o que fazer ou não fazer para agradá-lo. A moralidade é objetiva no sentido de que Deus é absoluto. Mas uma moralidade objetiva não é o mesmo que uma moralidade fundamentalista. Mais uma vez não sei se estou sendo bem claro.

      Citar o fundamentalismo islâmico como um mau exemplo do conceito de moralidade é uma das pegadinhas preferidas de alguns ateus atualmente. O que eu tenho a dizer sobre isto é que a moralidade do islamismo só reflete o conceito que eles têm de Deus. Apesar de acreditarem num Deus único, Criador, imaterial, etc., seus atributos pessoais não são os mesmos do Deus cristão. Nenhum dos 99 nomes de Allah fala de "amor". Allah não é um Deus que ama os pecadores e deseja a sua salvação. Ele ameaça os desobedientes ao inferno uma vez a cada 7,9 versos do Alcorão, contra 1/779 no Velho Testamento e 1/120 no Novo Testamento. Respondendo sua pergunta, pela "minha" moralidade eu não faço nada, só tento a cumprir, seguindo os conselhos da Bíblia: amando a Deus acima de tudo, amando ao próximo como a mim mesmo, amando meus inimigos (como essa é difícil!), respeitando os governos e autoridades civis, etc. etc.

      Abraços, Paz de Cristo.

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  6. Sobre o seu segundo comentário, achei interessante a exposição sobre o amor Eros. Mas é interessante que Lewis mostra como há uma analogia a este amor com o amor de Deus na própria Bíblia: quando a Igreja é chamada simbolicamente de a ""noiva de Cristo". Além disso, eu discordo de que o amor eros é associado a priori à lascívia ou luxúria. O amor eros é exaltado na Bíblia como criação de Deus, por exemplo no livro de Cantares de Salomão, e a Bíblia toda mostra que claramente é um desejo de Deus que o homem expresse este amor. Amor e luxúria são coisas diferentes. Talvez esta noção pejorativa do eros tenha vindo posteriormente no cristianismo, por exemplo depois que a Igreja Católica dogmatizou o celibato (e aqui eu posso estar errado).

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  7. Sobre seu último comentário, eu acredito que não como se convencer do amor de Deus sem que Ele nos provasse este amor. O cristianismo oferece resposta a isso pelo sacrifício de Jesus. Esta é a prova cabal de que Deus nos ama e nos amou desde o princípio, quando Ele mesmo se humilha e se oferece para receber a condenação pelo pecado de toda a humanidade. Não posso falar com propriedade, mas penso que em toda a história da humanidade não há nenhuma história análoga em outra religião.

    Eu estou planejando escrever um texto sobre o sacrifício de Jesus, mas no ritmo que andam as coisas (minha faculdade toma muito do meu tempo), acho que só o publicarei na metade do ano ou depois.

    Abraços, Paz de Cristo.

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