Devo pedir desculpas aos leitores, porque não encontrei a origem deste texto. Estava "perdido" nas pastas do meu computador, provavelmente eu devo ter visto há muito tempo em um site qualquer e copiado para estudá-lo futuramente.
O texto fundamenta quatro argumentos para a coerência do ateísmo como filosofia. Comentarei alguns pontos em vista do que se tem dito aqui no blog.
Abraços, Paz de Cristo.
As bases do ateísmo
autor: Desconhecido
Talvez possa ser dito que o ateísmo esteja apoiado sobre 4 pilares. Eles até agora se mostraram sólidos e inabaláveis:
Vamos conhecer esses pilares "sólidos" e "inabaláveis", então...
1 - A falta de evidências dos teísmos.
2 - A falta de coerência dos teísmos.
3 - As evidências contrárias a vários teísmos.
4 - O fato de não precisarmos da hipótese "deus" para explicar as causas dos fenômenos.
Já poderia começar a reclamar daqui, mas vamos esperar o autor se explicar melhor...
A força destes pilares estão no seu conjunto. Isolados, claro que tais argumentos não evidenciam muita coisa. Mas juntos, indicam que o ateísmo é a melhor postura que se possa ter sobre deus ou deuses.
Observe o que o autor está dizendo. Ele diz que cada um destes argumentos isolados não vale muita coisa, e somente estes em conjunto conseguem fundamentar o ponto de vista. Isto quer dizer que se eu refutar qualquer um que seja dos pontos, todo o argumento dele já fica seriamente fragilizado. Que dirá então se todos forem descartados...
Expliquemos com mais detalhes:
1- A FALTA DE EVIDÊNCIAS dos teísmos. Com falta de evidência, quero me referir a provas que possam ser verificadas por qualquer um e confirmada mesmo que a pessoa duvide.
Aqui já começa o problema. O tipo de prova que se está exigindo parece algo que está fora de questão por definição, pelo menos se baseando no teísmo cristão. Isso é algo do tipo "cara, eu ganho; coroa você perde". Explicarei mais adiante.
Suponha que o religioso te diga algo assim: existem unicórnios. Daí você diz: prove. Então vocês vão na floresta e não acham nenhum. Daí o religioso te dirá: enquanto nós andávamos pela floresta o unicórnio fugia da gente. Então vocês espalham sensôres e câmeras fotográficas por toda a floresta. Entretanto nada é detectado. Mas o religioso te dirá: o unicórnio é mágico ou invisível. Ou então ele te dirá: mesmo que não haja unicórnios na Terra, e quanto a Marte, Vênus ou Júpiter? Ou seja mesmo que vocês olhassem todo Universo e não achassem nenhum unicórnio, o religioso te diria: isso porque os unicórnios são seres espirituais.
Aqui é lançada uma falácia de analogia indevida. Perceba que unicórnios são animais, assim são seres físicos por definição. Deus, por outro lado, é um ser espiritual por definição. Assim, a afirmação "unicórnios existem" e a afirmação "Deus existe" requerem premissas e exigem tipos de evidência totalmente diferentes. Para mais detalhes sobre este tipo de falácia, veja a postagem Refutando o Dragão na Garagem de Carl Sagan.
Claramente você perceberia que não existem evidências que suportem as alegações religiosas mas mais do que isto: que o teísta (ou teólogo) irão tentar deixar suas alegações em tal nível que seja impossível testá-las para que elas não possam ser negadas. Ou sejam querem deixar em tal nível que não se possa provar que as alegações deles são falsas mesmo que o preço para pagar seja que o teísmo se transforme em algo sem regras claras de lógica ou racionalidade.
O autor insiste em tentar analisar Deus sob uma perspectiva científica. Qualquer afirmação sobre Deus se faz no plano metafísico. As evidências que devemos esperar e os motivos que nos levam a acreditar em Deus são do tipo que se esperam para alegações metafísicas. O método científico não possui escopo para argumentar sobre qualquer coisa que não seja um fenômenos natural reprodutível ou algo externo ao mundo físico. Para mais detalhes, leiam os artigos Afinal, existem evidências para a existência d Deus? e A ciência explica tudo?
Ainda poderia ser dito (sobre a falta de evidências): uma coisa pode existir sem que nós saibamos, até o momento, de sua existência. Entretanto, somando a ela, e aumentando seu peso, tem a:
2 - FALTA DE COERÊNCIA dos teísmos. Por exemplo, argumentos incoerentes no teismo do tipo: "Se Deus não existisse, então não haveria ninguém para criar o universo. Mas o universo claramente existe, e todas as coisas têm uma causa, logo Deus também existe." Mas, se tudo precisa de um criador, logo deus também precisa. E se nem tudo precisa de um Criador, o Universo poderia muito bem ter sugido SEM um Criador.
O Universo poderia ser eterno, por exemplo. Outra maneira de o Universo ser acausal seria se sua energia total fosse nula: a soma da energia potencial gravitacional - que é negativa, com a energia vinda das massas - lembre-se que E=mc², pode ser nula. Veja os objetos que caem sem ter nenhuma causa inteligente por trás (a força da gravidade não tem consciência ou vontade própria para decidir se age ou não por exemplo), da mesma forma o Universo poderia também não ter causa inteligente. Existem ainda outras.
Aqui o autor demonstra uma quase total ignorância em relação aos termos filosóficos relacionados a existência. Entre os objetos possíveis de existir, podemos fazer distinção entre os contingentes e os necessários. Algo que é contingente precisa de uma causa para existir. Como exemplo, temos todos os objetos e fenômenos físicos. Algo que é necessário existe sem que hajam causas para sua existência, aliás se este algo não existisse poderiam haver sérias contradições lógicas. Como exemplo, temos conceitos abstratos, como os números. O autor parece argumentar que o Universo é necessário. Mas isto não é verdade. Não há nenhum motivo para acreditar que o Universo seja necessário, dado que todo o seu conteúdo é contingente. Além disso, se o Universo fosse necessário, só poderia haver um Universo possível, pois o Universo seria exatamente da forma que Ele tem que ser. Mas é possível imaginar outros universos, as constantes fundamentais da natureza são valores a princípio arbitrários. Se é possível existir outros Universos variados, então o Universo não é necessário.
Se o Universo é contingente, Ele precisa de uma causa que é necessária. Os argumentos filosóficos concluem que esta causa é o que chamamos de 'Deus'.
Quanto ao Universo ser eterno, isto cria uma série de paradoxos para a filosofia. É impossível que exista uma série infinita de causas indo para o passado. E a ciência tem demonstrado desde o último século que o Universo possui um começo. Portanto, a própria ciência fala contra a hipótese do autor.
Você também não alega deus para explicar uma formação de conchas, pedras e areia pela praia: você diz que o movimento das marés, que não é dotado de inteligência ou tem planos para aquilo, que deixou-os (pedras, conchas, etc) organizados daquela forma. Ou ainda a formação dos vales ou ainda o desenho das montanhas: você supõe que vento, chuva causam erosão e deformam o terreno.
Perceba ainda a quantidade colossal de matéria bruta (no Sistema Solar) e vida praticamente apenas na Terra (tentemos ser otimistas, afinal talvez haja vida unicelular nas calotas polares de Marte ou na Lua Europa de Júpiter). Uma quantidade absurda de matéria bruta organizada de forma irregular pelos planetas e vida em praticamente apenas um. Isto não é nada mágico. Sugere mais que a vida é casual, acidental. Não parece que a explicação sobre a origem da vida merece que se suponha o divino.
O autor novamente está se confundindo, pois ignora os conceitos de contingente e necessário; e não deixou de apelar ao cientificismo, que já foi refutado acima.
Outra coisa é que o teísmo não explica a origem das coisas, ao contrário, complica ainda mais as explicações. Por exemplo, se algum deus fez, então: QUAL? (Deus, Alá, Shiva, etc?) O QUE É O UNIVERSO? (o Universo é parte de algum deus ou o criador fez o Universo do nada) COMO FOI FEITO? QUANDO FOI FEITO? POR QUE FOI FEITO? (cada religião dá a sua resposta, mas nenhuma prova que a sua é a correta ou que as demais são falsas). EXISTE VIDA EM OUTRAS PARTES DO UNIVERSO? E QUANTO À VIDA ET, ONDE ESTÁ? Etc. Ou ainda: DO QUE É FEITO DEUS? ENERGIA? DE QUE TIPO? De onde vemos que dizer este deus quem fez não explica e sim complica. Neste ponto entra o conceito da Navalha (vide mais abaixo no pilar 4).
Esse truque é muito conhecido pelos ateus, um nome técnico para ele é "a objeção dos muitos deuses". Há uma refutação bem completa a essa objeção no blog Quebrando o Encanto do Neo-ateísmo: Técnica: qual deus?.
O outro truque usado pelo autor aqui é fugir da questão tentando achar uma explicação para Deus, talvez uma variação da famosa técnica "quem criou Deus?". É um fato conhecido por filósofos da ciência que, para decidir qual a melhor explicação para um conjunto de fatos, não precisamos necessriamente conhecer a "explicação da explicação". Um exemplo fácil seria um arqueólogo encontrando vestígios de cerâmica e escritos numa escavação num lugar distante. A conclusão mais lógica é que aqueles artefatos pertenceram a uma civilização que esteve ali em algum lugar do passado, MESMO que o arqueólogo não tenha a mínima ideia de qual era quele povo ou como eles chegaram naquele lugar distante. Aplicando ao nosso caso, se Deus é a melhor explicação para a origem do Universo, e podemos mostrar que é, através dos argumentos cosmológicos da metafísica (mais detalhes aqui), não precisamos necessriamente saber do que Deus é feito, e outras perguntas (como, quando, por quê) são irrelevantes em relação ao fato de se foi Deus ou não que criou o Universo. O "como?" e o "quando?" são perguntas importantes, que podem ser respondidas pela ciência. O "por quê?" é uma pergunta metafisica.
As contradições, erros dos livros dito sagrados (Bíblia, Livro dos Espíritos, Alcorão, etc) ou ainda o fato de eles fazem profecias sem datas, sem eventos e sem citar locais de forma clara ou direta (ou seja, não são nada proféticos) poderia ser considerado falta de coerência também? Eu vejo que sim. Mas deixo mais para o próximo ponto.
Pode-se ver mais uma técnica interessante aqui. O autor faz alusão a certas contradições nos livros sagrados em geral, embora não aponte quais são essas contradições. Ele não falou sobre nenhum livro especial. aparentemente quis generalizar. É claro que eu defendo a autoridade apenas da Bíblia, por isso para mim é irrelevante falar dos outros livros. Se existem contradições na Bíblia, isso não necessariamente prova que a mesma é falsa, porque existem vários tipos de contradições: contradições históricas, do texto em si, comparando textos, etc. A bíblia é tida como um livro cujo conteúdo mais interessante aos cristãos é o espiritual, embora hajam dados históricos relevantes também. Existem algumas contradições no texto que podem ser explicadas por erros de cópia e tradução ao longo dos anos, mas deve-se ressaltar que estes erros são mínimos e em todas as vezes que ocorrem, estes não prejudicam o conteúdo espiritual da mensagem. Os manuscritos do Mar Morto, por exemplo, confirmam que os textos bíblicos de hoje em dia são praticamente os mesmos que há dois mil anos atrás, com exceção de umas poucas palavras representando menos de 1% do texto (por exemplo, "vossa" no lugar de "nossa" em 1 João 1.4), a ponto de podermos afirmar que a Bíblia é o livro mais bem conservado e atestado da Antiguidade.
O fato de profecias não terem data específica é algo totalmente irrelevante para a discussão.
Estando certos, 1 e 2, acabam por deixar os teísmos mais para o terreno na Fé e não da Razão. Mas você deve ainda considerar 3:
3 - As EVIDÊNCIAS CONTRÁRIAS ao deus revelado, inspirado, intervencionista, etc. A menos que se suponha um deus malicioso, por isto inspiraria errado seus messias. (Basta comparar o Alcorão, a Bíblia, o Livro dos Espíritos, o Sutra do Lótus, o Torah, etc., etc., com a realidade). A Bíblia por exemplo tem no mínimo 388 contradições. O fato de que nada adicionarem ao conhecimento humano (discutirei isto depois) também pesa contra estes livros porque sugerem que foram escritos meramente baseados no conhecimento primitivo da época e não inspirados por um deus honesto.
Mais uma vez não citou nenhuma contradição e apenas falou sem argumentar, por isso não tenho do que me defender aqui. O blog Descontradizendo Contradições apresenta respostas à maioria dos trechos que céticos alegam ser contradições bíblicos, eu recomendo que visitem a página para mais detalhes sobre o assunto.
Ao que um deísta (não confundir com teísta) poderia alegar que não acredita nos deuses revelados. Entretanto:
e somado ao 1,2 e 3 temos o quarto e último
4 - O fato de NÃO PRECISARMOS DA HIPÓTESE "deus" para explicar as causas dos fenômenos. Princípio conhecido como "A Navalha de Occam". Normalmente tem sempre uma fila de argumentos científicos ou ainda não-teístas e racionais, que deveríamos refutar antes de sair aceitando algum teismo.
A idéia daqui é economizar hipóteses não-testáveis ao máximo. Não ter NENHUMA é o ideal. Quanto mais hipóteses não-testáveis você adiciona para sustentar uma idéia, teoria, deixa ela mais provável de estar errada. Você simplesmente não pode escolher sem critério racional as hipóteses não-testáveis e declará-las como certas e todas as outras infinitas possíveis desconsiderar. Entretanto, isto é basicamente o que um teísta, que defenda um teísmo em particular, faz.
Primeiro, Deus não é hipótese. Deus não é algo sustentável pelo método científico, pois transcende à própria natureza. Já expliquei que Deus deve ser tratado por outro campo do conhecimento humano, a saber, a metafísica. A a Navalha de Occam não se aplica somente à ciência, mas a qualquer campo da filosofia, inclusive a metafísica. Os argumentos filosóficos nos levam a acreditar que deve existir um Deus, aplicando a Navalha de Occam, tudo que podemos dizer é que deve existir um Deus só em vez de vários, já que apenas um é suficiente para explicar a existência.
Além disso, o fato de que não precisamos da Deus para explicar o mundo físico não diz nada sobre a existência de Deus. Isto só prova que o método científico é uma técnica bem-sucedida para estudar a realidade física. Mas a ciência não explica nem pode explicar a origem da realidade física, nem os porquês da existência. Para quem ainda não viu, sugiro que veja a postagem do vídeo A ciência pode explicar tudo?, onde é falado exatamente sobre este assunto, inclusive o ateu do vídeo usa uma abordagem semelhante ao autor deste texto, dizendo que os argumentos separados não provam a existência de Deus, mas juntos eles dão uma evidência acumulada. Felizmente ele recebe a brilhante resposta de que se os argumentos individualmente não são sólidos, então juntos eles são tão inúteis quanto separados. Pois bem, estamos chegando ao final:
Perceba que os 4 pilares, isolados, não dão muita sustentação. Um teísta, teólogo, poderia lançar dúvidas individuais sobre cada, é claro. Mas os 4 operarem tão bem juntos é que deixa o ateísmo como a melhor postura sobre deus ou deuses.
Lembram dos 4 "pilares"? Vamos recapitular:
1 - A falta de evidências dos teísmos.
2 - A falta de coerência dos teísmos.
3 - As evidências contrárias a vários teísmos.
4 - O fato de não precisarmos da hipótese "deus" para explicar as causas dos fenômenos.
Lembre-se que o autor disse que se apenas um destes pontos fosse refutado, seu argumento cairia por terra. Isso é triste então, porque eu refutei todos os quatro. Aliás, eu acho que estes quatro pontos seriam melhor descritos do seguinte modo, baseado no que o autor falou:
1 - Falácias sobre distinções entre físico e metafísico.
2 - Falta de conhecimento acerca de contigência e necessidade.
3 - Acusações injustificadas a respeito da religião.
4 - Cientificismo.
Olhando desta maneira os quatro pilares parecem muito sólidos, não?
Abraços, Paz de Cristo. ;)
mt mt bom (y) obrigado ^^
ResponderExcluirDavid, vi que me respondeu e fiquei feliz!
ResponderExcluirTô passando para desejar um grande abraço e orando para que Deus continue iluminando sua vida. Torço por você, amigo.
Ainda não li o texto, tô sem tempo esses dias.
Pode ficar tranquilo e postar no face.
Paz de Cristo.
Bruno (Natal - RN)
Obrigado pela consideração, Bruno. Continuarei orando por você.
ExcluirAbraços, Paz de Cristo.
Bem, você confunde muitas coisas por não conhecer o bastante sobre o que está falando e tentar parecer um grande conhecedor. Você, ao tentar refutar a analogia com o unicórnio diz que a analogia é falsa porque compara unicórnios a Deus, mas não é isso que está sendo comparado. O que está sendo comparado é a situação. Daí segue-se a pergunta: por que não acreditar no caso dos unicórnios e acreditar no caso de Deus? Sem contar que unicórnio são seres mágicos e podem desaparecer ao sentir a presença de um humano, então a ausência de evidências seria plenamente compreensível. Em seguida você critica o autor por tentar entender a existência de Deus através da ciência, mas diz que isso só pode ser entendido através da metafísica. Você ignora que a metafísica trata do que são as coisas, não se elas existem. Uma questão metafísica seria "O que é Deus?", e não "Deus existe?". Esta é sim uma pergunta científica, mas que não pode ser respondida pela mesma por falta de recursos epistêmicos. Resultado: nenhuma evidência pode ser apresentada. Em seguida você fala de "filosóficos relacionados a existência". Amigo, esses termos não são relacionados com a existência, mas com proposições. O que é contingente ou necessário são as proposições, não os objetos. Não faz o menor sentido dizer que objetos são contingentes ou necessários. Ademais, toda proposição do tipo "x existe" é contingente para qualquer que seja o x. Também não é impossível uma série infinita da causas. Isso é uma impossibilidade física, mas não uma impossibilidade lógica. O argumento kalam erra por pensar em um começo infinitamente distante, mas quando falamos em série infinitas de causas, estamos falando de algo sem começo. Por fim, suas críticas ao cientificismo estão corretas, mas você erra ao pensar que a metafísica pode dar conta de algo. A metafísica só pode dizer o que é Deus, mas não se ele existe.
ResponderExcluirBoa noite. Eu sei que já faz muito tempo, mas, como esta questão chegou recentemente até a mim, creio que não custe nada responder, pois, devido ao belo trabalho que o David faz aqui, possui muitos leitores, logo, acho interessante responder a essa questão.
ExcluirEm primeiro lugar, a analogia de Deus e o unicórnio se dá realmente entre os dois seres. Em segundo lugar, unicórnios são seres mágicos, mas ainda são físicos, ao passo que Deus é um ser metafísico. Mesmo com sua capacidade de desaparecer diante de humanos, ainda assim, esperariam-se evidências empíricas, haja vista que este é um ser físico. Ignorar isso a fim de igualar Deus e o unicórnio é incorrer em falácia metodológica. Em seguida, é dito que a metafísica trata do que são as coisas, sim, está correto, mas não se esqueça que, dentro dela, temos a ontologia, que é o estudo da natureza do ser, isto é, o ser enquanto ser. "Deus existe" não é uma pergunta científica justamente pelo fato de este não estar sujeito ao método científico. Para prová-lo, utilizamos deduções e inferências lógicas. Ainda assim também é dito que não faz sentido falar que objetos são contingentes ou necessários. O que se deve ter em mente, no entanto, é que não estamos tratando de objetos. Deus não é um objeto, mas um ente metafísico, tal como as formas geométricas e os números. Todos podem possuir (e, de fato, possuem) a capacidade de necessidade. Por fim, uma regressão infinita de causas é sim uma impossibilidade tanto física quanto lógica. Ao considerarmos o infinito real, teremos diante de nós impossibilidades lógicas. Logo, é impossível haver um regresso infinito de eventos no tempo, ou seja, que a série de eventos passados não tenha um começo. A série de eventos passados chega a um fim no presente, mas o infinito não pode chegar ao fim. Pode-se observar que, mesmo que a série de eventos tenha um fim no presente, ela ainda pode ser infinita na direção oposta porque não tem começo. Todavia, se a série é infinita de volta para o passado, como o momento presente pode chegar? Isso porque é impossível atravessar o infinito para chegar ao hoje. Assim o hoje nunca chegaria, o que é um absurdo, pois estamos aqui. Se o número de eventos passados fosse infinito, isso levaria a infinitos de diferentes tamanhos. Se o universo é eterno e os planetas estão orbitando desde a eternidade, cada um desses corpos completou um número infinito de órbitas, mas, mesmo assim, um deles terá completado duas vezes ou milhares de vezes mais órbitas do que outro, o que é absurdo. Por fim, se tomarmos as órbitas completadas por apenas um desses planetas, podemos perguntar se o número dessas órbitas é par ou ímpar? Deve ter sido um ou outro, porém mesmo assim é absurdo dizer que o infinito é par ou ímpar. Por essas razões, o universo deve ter tido um princípio e deve ter tido uma causa para o seu começo. Por fim, a metafísica tanto pode dar conta de Deus, como o faz, por meio de inferências lógicas, trazendo a luz ao que conhecemos como ontologia, vide "ontologia e predicação".
Obrigado pela ajuda Andrei!
ExcluirAbraços, Paz de Cristo.
Acrescentando algumas coisas, você poderia dizer que a metafísica também trata de questões de existência, o que não é completamente falso. De fato, por vezes os metafísicos se questionam sobre a existência da realidade, da verdade, da liberdade, etc. Mas quando eles fazem isso, o fazem com bases na metafísica, isto é, através da própria análise do "ser" dos objetos. Em outras palavras, sabendo o que são essas coisas eu poderia saber se existem (de acordo com alguns metafísicos). Mas como você sabe, a grande maioria dos argumentos teístas NÃO SÃO metafísicos. Apenas o argumento ontológico é um argumento metafísico, pois ele tenta concluir da ideia de Deus a sua existência. Todos os demais são argumentos "a posteriori". Como você quer fazer metafísica desse jeito, send o que esta é "a priori"?
ResponderExcluirMuito obrigado pelas contribuições, caro anônimo. Seria mais proveitoso se você revelasse sua identidade, mas você tem o direito de permanecer anônimo. Você possui alguma formação em filosofia? Eu sou apenas um estudante de ciências, mas sou curioso e apaixonado pela filosofia.
ExcluirAbraços, Paz de Cristo.
A grande maioria dos argumentos teístas são sim metafísicos. Vide o argumento Kalam: a premissa "tudo o que começa a existir tem uma causa" é basicamente um axioma, ao passo que ex nihilo nihil fit. A priori é o conhecimento ou justificação independente da experiência, como uma inferência lógica "Todos os solteiros não são casados". A afirmação de que nada vem do nada é um axioma porque o nada não existe. O nada simplesmente é aquilo que não é, ou seja, não possui nenhum predicado positivo. Mediante isso, fica fácil conceber que a existência não pode partir da não existência. Aquilo que é não pode surgir daquilo que não é. Logo, temos um axioma, e, portanto, um argumento a priori.
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