Olá, leitores. Mais uma parte da série de postagens saindo do forno... aqui, essencialmente, Lewis argumenta que a doutrina da bondade de Deus não pode ser compreendida, se antes não admitirmos e compreendermos a doutrina da maldade humana. Aqui, mais uma vez, incluo algumas notas minhas destacadas em vermelho, para comentários ou efetuar a coesão entre trechos separados.
Abraços, Paz de Cristo
Os exemplos dados no último capítulo tinham como objetivo mostrar que o amor pode causar sofrimento ao seu objeto, mas apenas na suposição de que esse objeto precisa ser alterado a fim de tomar-se inteiramente digno de ser amado. Por que os homens precisam de tanta alteração? A resposta cristã - de que usamos nosso livre-arbítrio para nos tomar excessivamente maus - é tão conhecida que praticamente não precisa ser expressa. Fazer, porém, com que esta doutrina ganhe vida real na mente do homem moderno, e até mesmo dos modernos cristãos, é muito difícil.
Quando os apóstolos pregavam, eles podiam supor como certa, mesmo em seus ouvintes pagãos, uma percepção real do fato de merecerem a ira divina. Os mistérios pagãos existiam para acalmar este sentimento, e a filosofia de Epicuro alegava livrar os homens do medo do castigo eterno. Foi contra este pano de fundo que o Evangelho surgiu como boas notícias. Ele trouxe notícias de uma possível cura para os homens que sabiam achar-se mortalmente enfermos. Mas tudo isto mudou. O cristianismo tem agora de pregar o diagnóstico - que é por si mesmo péssimas notícias - antes de ganhar a atenção dos ouvintes para ensinar-lhes a cura.
São duas as causas principais. Uma delas é o fato de que por cerca de um século temos nos concentrado de tal forma em uma das virtudes - "bondade" ou misericórdia - que a maioria de nós não acha que é necessário nada além de bondade para ser realmente bom ou de crueldade para ser realmente mau. Desenvolvimentos éticos assim assimétricos não são incomuns, e outras épocas também tiveram as suas virtudes favoritas e curiosas insensibilidades. E se uma virtude deve ser cultivada à custa das demais, nenhuma delas possui mais valor do que a misericórdia - pois todo cristão deve rejeitar por completo essa propaganda sub-reptícia a favor da crueldade que tenta expulsar a misericórdia do mundo rotulando-a de "Humanitarismo" e "Sentimentalismo". O problema real está em que "bondade" é uma qualidade fácil de ser atribuída a nós mesmos em bases absolutamente inadequadas. Todos se sentem benevolentes se nada acontecer para aborrecê-los no momento. O homem se consola então facilmente a respeito de todos os seus outros vícios, através de uma convicção de que "seu coração está no lugar onde deve estar" e de que "não mataria uma mosca", embora de fato jamais tivesse feito o menor sacrifício por um semelhante. Pensamos que somos bons quando somos apenas felizes: não é assim fácil, na mesma base, imaginar que somos temperantes, castos ou humildes.
A segunda causa é o efeito da psicanálise na mente do público, e, em particular, a doutrina das repressões e inibições. O que quer que essas doutrinas signifiquem realmente, a impressão que deixaram na maioria das pessoas é que o sentido de Vergonha é algo perigoso e nocivo. Temos nos esforçado para vencer esse senso de recuo, esse desejo de ocultar, que ou a própria natureza ou a tradição de quase toda a humanidade associou à covardia, à lascívia, à falsidade e à inveja. É-nos dito para "pôr tudo para fora"; não para que nos humilhemos, mas com base no fato dessas "coisas" serem muito naturais e que não devemos envergonhar-nos delas. Todavia, a não ser que o cristianismo seja totalmente falso, a percepção de nós mesmos que temos em momentos de vergonha deve ser a única verdadeiramente real; e mesmo a sociedade pagã tem geralmente reconhecido a "sem-vergonhice" como o ocaso da alma. Na tentativa de remover a vergonha destruímos uma das defesas do espírito humano, exultando loucamente como exultaram os troianos quando quebraram as suas muralhas e fizeram entrar o Cavalo em Tróia. Não sei de nada que possa ser feito além de começar a reconstrução o mais depressa possível. É um trabalho tolo remover a hipocrisia removendo a tentação de ser hipócrita: a "franqueza" das pessoas que desceram abaixo da vergonha é uma franqueza muito medíocre.
A recuperação do velho sentido de pecado é essencial ao cristianismo. Cristo tem como certo que os homens são maus. Até que sintamos ser verdadeira esta sua suposição, embora sejamos parte do mundo que Ele veio para salvar, não nos integramos na audiência a quem Suas palavras são dirigidas. Falta-nos a primeira condição para compreender o que Ele fala. E quando os homens tentam ser cristãos sem esta consciência preliminar de pecado o resultado quase sempre se manifesta através de um certo ressentimento contra Deus como alguém que está sempre fazendo exigências impossíveis e sempre inexplicavelmente zangado. A maioria de nós sente às vezes uma simpatia secreta pelo fazendeiro agonizante que respondeu às palavras do Vigário sobre o arrependimento, perguntando: "Mas, que mal eu fiz a Ele?" É justamente esse o ponto. O pior que fizemos a Deus foi abandoná-lO - por que não pode Ele devolver a gentileza? Por que não viver e deixar que os outros vivam? Que direito tem Ele, entre todos os seres, de ficar "zangado"? É fácil para Ele ser bom!
No momento porém em que o homem sente uma culpa real - momentos esses demasiado raros em nossa vida - todas essas blasfêmias se dissolvem. Podemos sentir que muito pode ser justificado pelas fraquezas humanas - mas não isto, este ato incrivelmente baixo e repugnante que nenhum de nossos amigos teria praticado, de que até mesmo um patife como X se envergonharia, que jamais permitiríamos por coisa alguma que fosse publicado. Em momentos como esse ficamos realmente sabendo que nosso caráter, como revelado nesse ato, é, e deveria ser, odioso a todos os homens bons, e, se houver poderes superiores ao homem, a eles também. Um Deus que não considerasse tal coisa com desgosto implacável não seria um ente bom. Não podemos sequer desejar um Deus assim – seria como desejar que todo nariz no Universo fosse abolido, que o perfume do feno, das rosas, ou do mar jamais voltasse a deliciar qualquer criatura, só porque nosso hálito cheira mal.
Quando simplesmente dizemos que somos maus, a "ira" de Deus parece uma doutrina bárbara; mas tão logo percebemos nossa maldade, ela parece inevitável, um simples corolário da bondade divina. Manter sempre à nossa frente a percepção derivada de um momento como o que descrevi, aprender a detectar a mesma corrupção real e indesculpável sob mais e mais de seus disfarces complexos, é portanto indispensável para uma verdadeira compreensão da fé cristã. Não se trata naturalmente de uma nova doutrina. Não estou tentando produzir nada esplêndido neste capítulo, mas simplesmente procurando fazer com que meu leitor (e, mais ainda, eu mesmo) atravesse a pons asinorum - dando o primeiro passo para sair de um paraíso insensato e da completa ilusão.
A seguir, Lewis faz um série de considerações que costumam dificultar a visualização da doutrina da maldade humana no contexto em que estamos inseridos. Trouxe alguns aqui resumidamente:
1. Somos enganados pela aparência, quando nos comparamos com o outro. Quando não conhecemos alguém muito bem, podemos julgá-lo como uma pessoa boa, e de fato fazemos isso assim como fazem conosco. Porém, como conhecemos a nós mesmos mais profundamente, sabemos que as primeiras impressões que as pessoas podem ter sobre nós mesmos frequentemente estarão erradas.
2. Há uma tendência em colocar a culpa de grande parte da maldade e injustiça em uma corrupção do sistema em que estamos inseridos. Isso muitas vezes gera uma certa culpa coletiva, em detrimento da culpa individual que o cristianismo enfatiza.
3. Costumamos ter a estranha ilusão de que o tempo neutraliza os nossos erros. Sendo Deus atemporal, Ele não tem essa mesma impressão que nós temos. E deve-se lembrar que ficaríamos injuriados se, por exemplo, soubéssemos de um homem que cometeu muitos crimes, e passou anos sem ter cumprido a sua pena.
4. Podemos cair no sofisma de que, se todos os seres humanos são maus, então a maldade seria algo justificável, assim como temos a tendência de pensar que se todos os alunos vão mal em uma prova, o problema não está nos alunos, mas sim no professor. Entretanto, isto não é necessariamente verdade.
5. Um fato notável é que nós nunca tivemos a experiência de encontrar um ser humano na face da terra que fosse realmente bom (exceto os contemporâneos e conterrâneos a Jesus Cristo). Isso traz dificuldade para nos visualizar como maus, embora não seja tanta, porque vivemos sendo acusados pelo nosso senso moral.
6. Somos tentados a transferir a responsabilidade de nossos atos depravados para Deus, já que estamos pressupondo que fomos criados por Ele. Isto acontece por uma falta de entendimento sobre a doutrina da Queda do Homem.
Segundo essa doutrina, o homem é agora um horror para Deus e para si mesmo, uma criatura mal ajustada ao universo, não porque Deus o tenha feito assim, mas porque ele se fez assim ao abusar de seu livre-arbítrio. Esta é a única função da doutrina para mim. Ela existe como proteção contra duas teorias sub-cristãs da origem do mal - o monismo, segundo o qual o próprio Deus, estando "acima do bem e do mal", produz imparcialmente os efeitos aos quais damos esses dois nomes, e o dualismo, que afirma que Deus produz o bem, enquanto outro Poder igual e independente produz o mal. O cristianismo afirma que Deus é bom em oposição a esses dois pontos de vista. Que Ele fez todas as coisas boas e por causa da excelência das mesmas; que uma das boas coisas que Ele fez, a saber, o livrearbítrio das criaturas racionais, por sua própria natureza incluía a possibilidade do mal; e as criaturas, dispondo desta possibilidade, se tomaram más.
(Parte 2)
A maldade humana.
ResponderExcluirOs seres humanos se diferenciam muito dos animais irracionais, mas esta diferença não é só porque são inteligentes e seus irmãos menores têm apenas instintos, a diferença principal é catastrófica está na maldade, nós nunca vimos ou ouvimos falar de um animal torturar o outro para arrancar dele informações. O seres humanos sim, estamos cansados de saber como eles agem quando são feridos em seus interesses, já pensaram nos aparelhos maquiavélicos de tortura usados na idade média nas prisões do santo oficio, já viram falar das torturas que foram e continuam sendo aplicadas por ditadores sanguinários por todo o planeta terra, já viram noticias sobre as torturas de islâmicos com acusações de blasfêmias, já viram falar sobre perseguições políticas, perseguições religiosas, perseguições por racismo. Todos sabem dos massacres de índios americanos executados por tementes a Deus portadores de Bíblia em baixo do braço, estes mesmos que se enveredaram seu ódio contra os pobres negros indefesos, já viram falar na ku klux klan e suas barbaridades praticadas. Todas estas atrocidades cometidas pelos humanos, dão aos nossos irmãos menores uma graduação de qualidade muitas vezes superior,. Os humanos ainda dizem com toda cara de pau, nós somos a imagem e a semelhança do criador, hora onde está a coerência desta afirmação, porque nós temos o privilegio de estarmos no patamar mais alto, será porque somos inteligentes, mas inteligência não dá aos seres humanos nenhuma qualificação automática de bondade, de amor, de solidariedade, e de justiça. Inteligência só faz aumentar seu poder de fogo para explorar, atacar, torturar, massacrar e até matar seus semelhantes.
Tenho um pensamento funesto, o qual gostaria que não fosse verdade, mas me parece que a maldade humana, não foi criada pela Bíblia Sagrada, mas certamente foi por ela estimulada, porque neste livro existem muitos relatos de matanças, de extermínio de populações inteiras, segue alguns exemplos, leiam em deuteronômio, 7-1-6,13-15-16 ordem de Deus para matança e extermínio total, até animais foram sacrificados. Em Samuel 1-15:3, outro extermínio, segundo livro de Samuel, 24:15 (quanta bondade) e assim segue em muitos exemplos pelo livro todo, quem tiver dúvidas é só ler a Bíblia, mas ler com vontade, sem nenhuma interferência de pastores ou padres assim poderá encontrar as incoerências de um Deus que se diz bondoso e justo. Se não quiserem perder tempo procurando entre capítulos e versículos, vá direto a Google digite (Robert Green ingersoll ), é um pensador americano do século 18, lá pode ser lido todo trabalho de pesquisa deste pensador sobre a Bíblia.
Paulo Luiz Mendonça.
se a biblia e o mesmo ensinamento porq nao e ensinado do mesmo jeito em todas as igrejas
ResponderExcluirse a biblia e o mesmo ensinamento porq nao e ensinado do mesmo jeito em todas as igrejas
ResponderExcluirPorque o pecado corrompeu os homens , e os homens começaram a manipular a palavra de Deus para favorecer a si mesmo ....
ExcluirPorque o pecado corrompeu os homens , e os homens começaram a manipular a palavra de Deus para favorecer a si mesmo ....
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