Este é um breve trecho de um debate/exposição que aconteceu na página do Facebook sobre a onipotência de Deus. Andrei Cavalcanti fez as perguntas e Silas Ben-Hur respondeu sobre a visão teísta.
(08/06/2012)
Respostas ao Ateísmo
Deus é onipotente, mas quando Deus cria seres que possuem vontade livre, Ele automaticamente se coloca uma limitação: Deus não tem poder para fazer com que alguém escolha A ou B voluntariamente. Se Ele fizer isso, Ele estará determinando a escolha dEle, logo a pessoa não escolheu livremente.
Entenda que isto não prejudica a onipotência de Deus, pois o conceito de onipotência não inclui contradições lógicas. Contradições lógicas não são coisas que podem existir, são apenas conjuntos de palavras que não fazem sentido (assim como um "círculo quadrado").
Então, se Deus criou seres com livre-vontade, LOGO Ele não tem o poder de determinar qual será a escolha da pessoa, embora Ele saiba qual será a escolha das pessoas.
Aí você poderia perguntar: "Então Deus não tem absolutamente nenhum controle sobre qual seria o resultado do mundo que Ele iria criar?"
E eu respondo: Deus não poderia criar um mundo onde todos voluntariamente escolhessem a religião certa (pelos motivos dados acima), mas Ele pode criar um mundo onde o número máximo de pessoas possível através da história fizesse a escolha certa. Eu acredito que é este mundo em que vivemos.
Andrei, eu expliquei que mexer no livre arbítrio cria contradições lógicas. Contradições lógicas não são objetos possíveis no mundo real, por isso Deus não deixa de ser onipotente por não poder criar contradições lógicas. Elas nem mesmo são algo; como já expliquei são apenas conjuntos de palavras sem significado.
Se deus é onipotente, deus é poderoso em qualquer universo e em qualquer âmbito de regras lógicas que estes universos possam possuir, à partir do momento em que deus se limita, é plausível dizer que deus é insuficiente em reger a vida de alguém, se deus é insuficiente em algo deus é impotente em algo, se deus é impotente em algo, deus não é onipotente.
Se deus não pode levantar uma pedra que ele mesmo projetou para não conseguir levantá-la, ele falha em sua onipotência, se levanta, ele falha em sua onipotência. Independente de regras lógicas, o fato de ele se limitar ao que é lógico o tornaria impotente, portanto ele poderia sim criar um ''círculo quadrado''.
Respostas ao Ateísmo
Então estamos meramente discutindo sobre o conceito de onipotência, e mais nada. Se nós admitimos definições diferentes para esta palavra, não vamos chegar a lugar nenhum.
Andrei Cavalcanti
Definição = Todo poder; poder absoluto, todo-poderoso.
Silas Ben-Hur
Andrei, você adotou um posicionamento que simplesmente não faz o menor sentido: alegar que onipotência significa fazer até o que é logicamente impossível. No mínimo, há duas razões fortíssimas pelas quais esse posicionamento é um equívoco dos mais absurdos:
1) A própria palavra "onipotência" tem seu sentido distorcido, principalmente por ateus intelectualmente pouco sofisticados (você não vê filósofos ateístas como Quentin Smith e Kai Niehlsen se posicionando dessa forma). A palavra em pauta deriva da junção grega omnipotentia, que traduz a união de "todas as potências". Em seu livro, A Suma Teológica, São Tomás de Aquino bem expõe que Deus é ato puro, predecessor de todas as potências. Ou seja, tudo o que nós vemos como potência, Deus já tem de forma inata. Falando na linguagem dos leigos, poder infinito.
Tomando essas ponderações como base, perguntinha pra você: quanto poder é necessário para criar um triângulo de dois lados? Quanto poder é necessário para fazer com que 1+1 deixe de ser 2 e passe a ser 3? Seria... o poder de uma bomba de nitroglicerina? De uma bomba atômica? De uma bomba de hidrogênio? De uma bomba de antimatéria? De uma bomba de vácuo (a mais poderosa, que existe só na teoria)? Absurdo, não? Nenhum desses poderes fará com que 1+1 deixe de ser dois, por exemplo. Nem se reuníssemos todos eles. Nem se fossem infinitos. Por que? A razão é conclusível a priori, mas é tão óbvia quanto algo acessível a posteriori: as leis da lógica não são mantidas por uma relação de poder. Não importa quanto poder alguém tenha, não faz o menor sentido perguntar: quanto poder é preciso para quebrar as leis da lógica? É um tremendo non-sense.
E daí? Daí que fazer algo que é logicamente impossível não é uma potência. Portanto, não se inclui na onipotência de Deus. Na verdade, Andrei, pensa um pouquinho (faz mal não): o "logicamente impossível" simplesmente não pode existir. Não existe um triângulo de dois lados. Isso não passa de uma combinação inconsistente de palavras. Coisas logicamente impossíveis são justamente coisas que não existem em nenhum mundo possível.
2) A própria definição de Deus implica que as potências inclusas na onipotência são, necessariamente, logicamente possíveis. Deus é o maior Ser concebível, é perfeito. Nesse sentido, pensa bem: se Deus pudesse fazer o que é logicamente impossível, isso seria uma imperfeição. Lembre-se de que a ideia de onipotência surge da ideia da perfeição de Deus. Vejamos um exemplo de algo logicamente impossível: Deus deixar de ser Deus. Ora, Deus é imutável. Sua natureza não muda. É logicamente impossível que Deus deixe de ser Deus. De fato, se Deus pudesse deixar de ser Ele próprio, Ele seria imperfeito. Alguém que tem um poder infinito contraditório é ontologicamente inferior a quem tem um poder infinito não-contraditório.
Agora, talvez você esteja pensando: então as leis da lógica ditam os atributos de Deus? Eu não diria isso. Na verdade, a lógica É um atributo de Deus. Deus, como o Ser maximamente grande, deve ser, em essência, a própria lógica. O que nós estudamos em Filosofia, a chamada Filosofia do Raciocínio, ou Lógica, seria apenas um mero reflexo da natureza de Deus. O cristianismo tem uma palavra a dizer sobre isso. No evangelho segundo João, nos primeiros versículos, lemos o seguinte: "No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio d'Ele e, sem Ele, nada do que foi feito se fez." (João 1:1-3). Sabe que palavra grega foi traduzida por "Verbo" aqui? Logos. Na Grécia, os filósofos acreditavam que existia algo como a Razão (com 'r' maiúsculo mesmo) ou Lógica. Tipo, uma entidade metafísica que norteia o raciocínio de modo infalivelmente lógico. O apóstolo João disse que esse Logos era Deus. Em João 1:1-3, vemos Deus sendo descrito como o Agente Lógico Supremo, pois tudo o que foi criado por Deus, foi criado pelo Logos.
Abraços, Paz de Cristo.
Acho que você não entendeu, caro L Henryque. O que estamos argumentando é que o conceito de onipotência aplica-se somente a coisas que são logicamente possíveis. Acho que você não chegou na parte do Silas Ben-Hur, que esclareceu melhor a visão teísta do assunto. Esse meu uso do verbo "poder" está no sentido de que se Deus fizesse isso, cairia numa contradição lógica.
ResponderExcluirAbraços, Paz de Cristo.
É interessante que a própria Bíblia defende que a onipotência de Deus não significa que Ele pode fazer coisas logicamente contraditórias.
ResponderExcluir"Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo." (II Timóteo 2 : 13)
Hebreus 6:18: "Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta..."
"Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta." (Tg 1.13)
(Tito 1:2)"Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos;"
Podemos perceber por esses e outros trechos que definição de onipotência, como sendo limitada ao logicamente possível, tem fundamento bíblico. Eu não sei quem os ateus estão atacando com esses "paradoxos da onipotência", mas certamente não é o Deus bíblico.
Obrigado pela contribuição, Felipe. Nunca tinha parado para pensar nisso...
ExcluirAbraços, Paz de Cristo.