Não costumo publicar muitos textos de outros autores ou com conteúdo altamente técnico, mas achei este texto muito pertinente. Se alguém tiver paciência de ler, será muito proveitoso, e ele pode ser usado como referência para trabalhos apologéticos também. O trabalho foi escrito pelo filósofo estadunidense Edward Feser e trata de refutar as principais objeções ao argumento cosmológico para a existência de Deus. Eu já refutei estas objeções de uma maneira mais simples no artigo [Afinal, existem evidências para a existência de Deus? (Parte 2)].
Boa leitura,
Abraços, Paz de Cristo.
Então você acha que entende o argumento cosmológico?
Edward Feser
Boa leitura,
Abraços, Paz de Cristo.
Então você acha que entende o argumento cosmológico?
Edward Feser
A maioria das pessoas que comentam sobre o argumento cosmológico não
sabem, de forma demonstrável, sobre o que estão falando. Isto inclui todos os
proeminentes escritores neo-ateístas. Definitivamente inclui a maioria das
pessoas que vivem escrevendo comentários no blog de Jerry Coyne.
Também inclui a maioria dos cientistas. E até mesmo inclui muitos teólogos e
filósofos, ou pelo menos aqueles que não dedicaram muito estudo ao tema. Isto
pode parecer arrogante, mas não é. Você poderia achar que eu estou dizendo,
“Eu, Edward Feser, tenho conhecimento especial sobre este tema que tem de
alguma forma iludido todo mundo”. Mas isto NÃO é o que eu estou dizendo. O
ponto não tem nada a ver comigo. O que eu estou dizendo é bem um
conhecimento comum entre filósofos profissionais da religião(incluindo
filósofos ateístas da religião), que – naturalmente, dado o
objeto de sua particular subdisciplina filosófica – são
as pessoas que conhecem mais sobre o argumento cosmológico do que qualquer
outro.
Em particular, eu acho que a vasta maioria dos filósofos que estudaram
o argumento em qualquer profundidade – e novamente, isto inclui
ateístas assim como teístas, apesar de não incluir a maioria dos filósofos fora da
subdisciplina da filosofia da religião – concordariam com os pontos que eu
estou para fazer, e com a maioria deles de qualquer forma. É claro, eu não quero
dizer que eles todos deveriam concordar comigo que o argumento é ao fim do dia
um argumento convincente. Eu só quero dizer que eles concordariam
que a maioria dos não especialistas que comentam sobre ele não o entendem,
e que as razões por que pessoas o rejeitam são normalmente superficiais e
baseados em caricaturas do argumento. Nem digo eu que cada autointitulado
filósofo da religião concordaria com os pontos que eu estou para fazer. Como
todo outro campo acadêmico, a filosofia da religião tem sua parcela de mediocridades. Mas eu
estou dizendo que a vasta maioria dos filósofos da religião
concordariam, e novamente, isto inclui ateístas entre eles assim como teístas.
Eu não vou
apresentar e defender qualquer versão do argumento cosmológico aqui. Eu fiz
isto extensivamente em meus livros Aquinas e The Last Superstition, e isto precisa ser
feito extensivamente ao invés de num contexto de um post de blog. A razão para
isto é que enquanto a estrutura básica das versões principais do argumento são
bem simples, a base metafísica necessária para um entendimento apropriado dos
termos chave e inferências não é. Ela necessita de esclarecimentos, sendo por
isto que Aquinas e The Last Superstition dedicam
um longo capítulo à metafísica geral antes de endereçar a questão da existência
de Deus. As objeções sérias ao argumento podem em meu ponto de vista todas
serem respondidas, mas isto também pode ser apropriadamente feito somente
depois que as ideias fundamentais terem sido estabelecidas. E isto também é uma
tarefa conduzida nos livros.
Eu irei lidar com algumas das objeções não sérias, no entanto. Em
particular, o que se segue tem a intenção de clarear algumas das futilidades
intelectuais que previnem muitas pessoas de dar ouvidos ao argumento de forma
justa. Aos pontos, então:
1. O argumento NÃO se baseia na
premissa que “Tudo tem uma causa”.
Muitas pessoas –
provavelmente a maioria das pessoas que possuem uma opinião
sobre o assunto – acham que o argumento cosmológico é assim: Tudo tem uma
causa; assim o universo tem uma causa; assim Deus existe. Eles então não têm
nenhum problema em achar furos nele. Se tudo tem uma causa, então o que causou
Deus? Por que assumir em primeiro lugar que tudo tem que ter uma causa? Por que
assumir que a causa é Deus? Etc.
Aqui está algo
engraçado, entretanto. Pessoas que atacam este argumento nunca dizem de onde
eles tiraram ele. Eles nunca citam ninguém defendendo ele. Há uma razão para
isto. A razão é que ninguém dos mais conhecidos proponentes do
argumento cosmológico na história da filosofia e teologia jamais deram tal
argumento tolo. Nem Platão, nem Aristóteles, nem al-Ghazali, nem
Maimonides, nem Aquino, nem Duns Scotus, nem Leibniz, nem Samuel Clarke, nem
Reginald Garrigou-Lagrange, nem Mortimer Adler, nem William Lane Craig, nem
Richard Swinburne. E nenhum outro, até onde sei (Seu pastor Bob não conta. Eu
quero dizer ninguém entre filósofos proeminentes). E mesmo assim éconstantemente apresentado,
não somente pelos escritores populares mas mesmo por alguns filósofos
profissionais, como se fosse “a” versão “básica” do argumento cosmológico, e
como se toda outra versão fosse essencialmente apenas uma variação dela.
Não fique com minha
palavra sobre isto. O ateísta Robin Le Poidevin, em seu livro Arguing for Atheism (que meu crítico Jason
Rosenhouse acha que é o máximo)
começa sua crítica ao argumento cosmológico atacando uma variação do tolo
argumento dado acima – apesar dele admitir que “ninguém defendeu um argumento
cosmológicos com esta forma precisa”! Então, qual é a vantagem de atacá-lo? Por
que não iniciar ao invés disto com o que alguns proeminentes defensores do
argumento cosmológico realmente disseram?
Suponha que algum
criacionista inicie seu ataque ao darwinismo declarando aos seus leitores que o
clamor “básico” do relato darwinista da origem humana é que em algum ponto no
passado distante um macaco deu a luz a um bebê humano. Suponha que ele não
tenha provido nenhuma fonte para este clamor – que, é claro, ele não poderia,
porque nenhum darwinista jamais disse tal coisa – e suponha também que eleadmitiu que
ninguém jamais disse isto. Mas suponha também que ele clamou que “versões mais
sofisticadas” do darwinismo foram realmente apenas “modificações” deste clamor. Intelectualmente falando,
isto seria completamente vil e desprezível. Daria aos leitores a falsa
impressão que qualquer coisa que os darwinistas têm para dizer sobre a origem
humana, apesar de superficialmente sofisticado, é realmente apenas um exercício
desesperado de arrumar uma posição manifestamente absurda. Precisamente por
esta razão, no entanto, tal procedimento deveria,retoricamente falando,
ser de fato muito efetiva.
Compare isto com o
procedimento de Le Poidevin. Apesar de sua própria admissão que
ninguém realmente defendeu o fraco argumento em questão, Le Poidevin ainda
chama ele de a versão “básica” do argumento cosmológico e caracteriza as
“versões mais sofisticadas” que ele considera depois como sendo “modificações”
dele. Daniel Dennett faz algo similar em seu livro Breaking the Spell. Ele nos assegura que o fraco
argumento em questão é a “forma mais simples” do argumento cosmológico e
falsamente insinua que outras versões – ou seja, as que os filósofos
realmente defendem, e as quais Dennett não se importa em discutir –
são meramente tentativas desesperadas de reparar os problemas óbvios com a
“versão” “Tudo tem uma causa”. Como com nosso criacionista imaginário, este
procedimento é intelectualmente desonesto e desprezível, mas é retoricamente muito
efetivo. Dá ao leitor descuidado a falsa impressão de que declaração “básica”
feita por Aristóteles, Aquino, Leibniz, et al. é
manifestamente absurda, que tudo mais que eles têm a dizer é meramente uma
tentativa de remendar esta posição absurda, e (então) tais escritores não
precisam se incomodar com mais nada.
E isto, eu
reconheço, é a razão pela qual o tolo argumento “Tudo tem uma causa” – uma
fabricação completa, uma lenda urbana, algo que nenhum filósofo jamais defendeu
– perpetuamente assombra o debate sobre o argumento cosmológico. Ele dá aos
ateístas um alvo fácil, e um caminho retórico para fazer até mesmo seus
oponentes mais sofisticados parecerem estúpidos e não dignos de se lidar. É um
truque pegajoso, nada mais – um vergonhoso exercício naquilo que eu em outro
lugar chamei de “meta-sofisma” (Eu não
faço julgamento sobre se o desleixo de Le Poidevin ou Dennett foi deliberado.
Mas que eles deveriam conhecer melhor está sem dúvida fora de
questão).
O que defensores do
argumento cosmológico realmente dizem é que o que veio
à existência tem uma causa, ou que o que é contingente tem
uma causa. Estes clamores são tão diferentes do “Tudo tem uma
causa” assim como “O que for que tenha cor é extendido” é diferente do “Tudo é
extendido”. Defensores do argumento cosmológico também fornecem argumentos para
estas declarações sobre causação. Você pode discordar destas declarações –
apesar de que, se você achar que eles são falsificados pela física moderna,
você está redondamente enganado –
mas você não pode acusar de forma justa o defensor do argumento cosmológico
tanto por dizer algo manifestamente tolo quanto por se contradizer quando ele
diz que Deus é incausado.
Isto nos dá o que eu considero o teste “básico” para determinar se um
ateísta é informado e intelectualmente honesto. Se ele acha que o argumento
cosmológico se baseia na declaração que “tudo tem uma causa”, então ele é
simplesmente ignorante sobre os fatos básicos. Se ele persiste em declarar que
ele se baseia nesta declaração depois de ser informado do contrário, então ele
é intelectualmente desonesto. E se ele é um filósofo acadêmico como Le Poidevin
ou Dennett que é profissionalmente obrigado a saber destas coisas e evitar
truques baratos de debate, então... bem, você conhece a matemática.
2. “O que causou Deus?” não é uma objeção
séria ao argumento.
Parte da razão pela qual isto não é uma séria objeção é que ela
geralmente está baseada na suposição que o argumento cosmológico está
comprometido com a permissa que “Tudo tem uma causa”, e como eu já disse, isto
simplesmente não é o caso. Mas há outra e talvez mais profunda razão.
O argumento
cosmológico em suas versões historicamente mais influentes não está
preocupado em demonstrar que há uma causa para as coisas que por acaso não
possui uma causa. Não está interessado em “fatos brutos” – se estivesse, então
sim, colocar o mundo como o fato bruto último poderia ser discutivelmente tão
defensável quanto tomar Deus. Pelo contrário, o argumento cosmológico –
novamente, pelo menos como seus mais proeminentes defensores (Aristóteles,
Aquino, Leibniz, et al.) o apresentam – está
preocupado em tentar mostrar que nem tudo podeser um “fato bruto”.
O que ele busca mostrar é que se há uma explicação última das coisas, então
deve haver uma causa de tudo mais que não somente existe, mas que
não poderia nem em princípio ter falhado em existir. E por
isto é que se diz ser incausado – não porque é uma exceção arbitrária
a uma regra geral, não porque ele por acaso é incausado, mas
sim porque não é o tipo de coisa que em princípio possa se
dizer que tenha uma causa, precisamente por que em princípio não poderia falhar
em existir. E o argumento não assume ou estipula meramente
que a primeira causa é assim; pelo contrário, o grande ponto do argumento é
tentar mostrar que deve haver algo assim.
Versões diferentes
do argumento cosmológico abordam esta tarefa em diferentes formas. Versões
aristotélicas argumentos que a mudança – a atualização dos potenciais inerentes
nas coisas – não podem em princípio ocorrer a menos que haja uma causa que é “pura
atualidade”, e assim possa atualizar outras coisas sem que ela mesma tenha que
ser atualizada. Versões neo-platônicas argumentam que coisas compostas não
podem em princípio existir a menos que haja uma causa das coisas que é
absolutamente unificada ou não-composta. Tomistas não apenas defendem as
versões aristotélicas, mas também argumentam que o que for que tenha uma
essência ou natureza distinta de sua existência – de forma que tenha que
derivar existência de algo fora dele – deve ultimamente ser causado por algo
cuja essência simplesmente seja existência, e que existência qua ou ser ele mesmo não precisa derivar sua
existência de outro. Versões leibnizianas argumentam que o que for que não
tenha razão suficiente para sua existência em si mesmo deve ultimamente derivar
sua existência de algo que tem em si mesmo uma razão
suficiente para sua existência, e que é neste sentido necessária ao invés de
contingente. E assim continua (Note que eu não estou defendendo ou mesmo
declarando os argumentos aqui, mas meramente dando resumos de uma só sentença
da abordagem geral das várias versões que o argumento leva).
Assim, perguntar “O
que causou Deus?” realmente equivale a perguntar “O que causou a coisa que não
pode em princípio ter uma causa?”, ou “O que atualizou as potencialidades
naquela coisa que é pura atualidade e assim nunca teve nenhuma potencialidade
de qualquer tipo precisando ser atualizada em primeiro lugar?”, ou “O que
transmitiu uma razão suficiente para existência daquilo que tem sua razão
suficiente para existência em si mesmo e não derivou isto de nada mais?”. E
nenhuma destas perguntas faz sentido. É claro, o ateísta poderia dizer que ele
não está convencido que o argumento cosmológico é bem sucedido em mostrar que
há realmente algo que não poderia em princípio ter uma causa, ou que é
puramente atual, ou que tem uma razão suficiente para sua existência em si
mesmo. Ele pode até mesmo tentar argumentar que há alguma sorte de incoerência
secreta nestas noções. Mas meramente perguntar “O que causou
Deus?” – como se o defensor do argumento cosmológico tivesse ignorado as
objeções mais óbvias – simplesmente perde todo o ponto. Um crítico sério tem
que lidar com os detalhes dos argumentos. Ele não pode causar um curto-circuito
neles com uma simples pergunta espertinha (Se algum anônimo tolo em um
comentário pode pensar em tal objeção, então você pode estar certo que
Aristóteles, Aquino, Leibniz, et al. já pensaram
sobre isto também).
3. “Por que assumir que o universo
teve um começo?” não é uma objeção séria ao argumento.
A razão que isto
não é uma objeção séria é que nenhuma versão do argumento cosmológico assume isto.
É claro, o argumento cosmológicokalām declara que o universo teve
um princípio, mas ele simplesmente não o assume. Pelo contrário,
todo o ponto daquela versão do argumento cosmológico é estabelecer através
de argumento detalhado que o universo deve ter tido um princípio. Você pode
tentar refutar aqueles argumentos, mas fingir que alguém possa descartar o
argumento simplesmente levantando a possibilidade de uma série
infinita de universos é perder todo o ponto.
A razão principal
para que esta seja uma má objeção, no entanto, é que a maioria das versões do
argumento cosmológico nem mesmo declaraque o universo teve um
princípio. Os argumentos cosmológicos aristotélicos, neo-platônicos, tomísticos
e leibnizianos estão todos preocupados em mostrar que deve haver uma causa
incausada mesmo que o universo tenha sempre existido. É claro,
Aquino acreditava que o mundo tinha um princípio, mas (como todos os estudiosos
de Aquino sabem) isto não é um clamor que tem qualquer papel em suas versões do
argumento cosmológico. Quando ele argumenta que deve haver uma Primeira Causa,
ele não quer dizer “primeiro” na ordem de eventos estendendo-se para o passado.
O que ele quer dizer é que deve haver uma causa mais fundamental das
coisas que as mantém em existência em cada momento, sendo ou não a
série de momentos estendida para o passado sem um princípio.
De fato, Aquino rejeitou excepcionalmente
o que é agora conhecido como argumento kalām. Ele não achou que o
clamor que o universo tinha um princípio poderia ser estabelecido através de
argumentos filosóficos. Ele achou que isto poderia ser conhecido somente
através de divina revelação, e assim não era apropriado usá-los ao tentar
estabelecer a existência de Deus (Aqui, por falar nisto, está outro teste
básico de competência ao se falar neste tema. Qualquer crítico dos Cinco
Caminhos que clamam que Aquino estava tentando mostrar que o universo tinha um
princípio e que Deus causou este princípio – como Richard Dawkins faz em seus
comentários sobre o Terceiro Caminho em seu The God Delusion –
infalivelmente demonstra com isto que ele simplesmente não sabe sobre o que ele
está falando).
4. “Ninguém tem dado qualquer razão
para achar que a Primeira Causa é onipotente, onisciente, todo-bondade, etc.”
não é uma objeção séria ao argumento.
Pessoas que fazem
esta declaração – como, novamente, Dawkins em The God Delusion –
mostram com isto que eles de fato não leram os escritores que eles estão
criticando. Eles estão tipicamente se baseando naquilo que outras pessoas
desinformadas têm dito sobre o argumento, ou no máximo se baseando em trechos
tirados de contexto e jogados em alguma antologia (como os Cinco Caminhos de
Aquino frequentemente são). Aquino de fato devota centenas de
páginas através de vários trabalhos para mostrar que uma Primeira causa de
coisas deveria ser onipotente, onisciente, todo-bondade, e assim continua.
Outros escritores escolásticos e modernos como Leibniz e Samuel Clarke também
se dedicam a argumentação detalhada para estabelecer que a Primeira Causa teria
vários atributos divinos.
É claro, um ateísta poderia tentar refutar estes vários argumentos. Mas
fingir que eles não existem – ou seja, fingir, como muitos fazem, que os
defensores do argumento cosmológico tipicamente fazem um indefensável salto do
“Há uma Primeira Causa” para “Há uma causa do mundo que é onipotente,
onisciente, etc.” – é, novamente, simplesmente mostrar que não se sabe o que
está se falando.
5. “O argumento não prova que o
Cristianismo é verdadeiro” não é uma objeção séria ao argumento.
Ninguém declara que o argumento cosmológico por si mesmo é suficiente
para mostrar que o Cristianismo é verdadeiro, que Jesus de Nazaré era Deus
encarnado, etc. Isto não é o que ele tenta fazer. Ele só tem a intenção de
estabelecer o que cristãos, judeus, muçulmanos, teístas filosóficos e outros
monoteístas mantém em comum, a saber, a visão que há uma causa divina do
universo. Estabelecer a verdade das declarações especificamente cristãs sobre
esta causa divina requer argumentos separados, e ninguém de outra forma
pretendeu fazer o contrário.
Também seria
obviamente tolo para um ateísta alegar que a menos que o argumento te leve até
provar que o cristianismo é verdadeiro, especificamente, então
não há motivos para se considerá-lo. Pois se o argumento funcionar, isto seria
suficiente em si mesmo para refutar o ateísmo. Ele mostraria que o debate real
não é entre ateísmo e teísmo, mas entre os vários tipos de teísmo.
6. “Ciência demonstrou isto-e-aquilo”
não é uma objeção séria ao (maioria das versões) argumento.
Há versões do
argumento cosmológico que apelam para considerações científicas – mais
notavelmente, a versão do argumento kalām defendida por
William Lane Craig. Mas até mesmo o argumento de Craig também apela para
considerações separadas e puramente filosóficas que não são abaladas pelos
correntes estados de coisas em cosmologia ou física. E a maioria das versões do
argumento cosmológico não dependem de qualquer forma de
declarações científicas particulares. Ao invés disto, eles começam com
considerações extremamente gerais que qualquer teorização científica possível
deve tomar por si mesma como garantido – por exemplo, que há
um mundo empírico, ou um mundo de qualquer sorte.
É algumas vezes
declarado (por exemplo, por Anthony Kenny e J. L. Mackie) que alguns dos
argumentos de Aquino a favor da existência de Deus dependem de teses obsoletas
de física aristotélica. Mas tomistas possuem pouca dificuldade em mostrar que
isto é fácil. De fato, os argumentos dependem somente das declarações de metafísica aristotélica
que podem ser obtidas de qualquer suposição científica obsoleta e ser
demonstradas defensáveis, seja como for os detalhes científicos, precisamente
por que (assim o tomista argumenta) eles dizem respeito ao que qualquer
possível teoria científica tem que pressupor (Naturalmente, eu
endereço isto em Aquinas).
É claro, muitos
ateístas estão comprometidos com o cientificismo, e mantém que não há outra
forma racional de investigação que não seja a ciência. Mas a menos que eles
forneçam um argumento para esta declaração, eles estão
meramente cometendo uma petição de princípio contra o defensor do argumento
cosmológico, cuja posição é precisamente que há argumentos racionais que são
distintos de, e de fato mais fundamentais que, argumentos empíricos
científicos. Além disto, defender o cientificismo não é uma tarefa fácil – de
fato, a visão é simplesmente incoerente, ou eu argumentaria assim (como eu
tenho argumentado em vários posts anteriores).
Sendo assim, meramente gritar “Ciência!” não prova nada.
7. O argumento não é um argumento
pelo “Deus das lacunas”.
Já que o ponto do argumento é precisamente explicar (parte do) que a
ciência deve tomar como válido, não é o tipo de coisa que poderia mesmo em
princípio ser vencido por descobertas científicas. Pela mesma razão, não é uma
tentativa de plugar alguma corrente “lacuna” no conhecimento científico. Nem é,
em suas versões historicamente mais influentes versões de qualquer forma, um
tipo de “hipótese” declarada como a “melhor explicação” da “evidência”. Antes é
uma tentativa de demonstração estritamente metafísica. Para ter certeza, como a
ciência empírica ela começa com declarações empíricas, mas elas são declarações
empíricas que são tão gerais que (como eu disse) a ciência não podería negá-las
sem negar suas próprias pressuposições evidenciais e metafísicas. E ela
prossegue a partir destas premissas, não por teorização probabilística, mas via
dedução estritamente racional. A este respeito, sugerir (como Richard Dawkins
faz) que o argumento cosmológico falha em considerar explicações mais
“parcimoniosas” que uma causa não causada é como dizer que o teorema de
Pitágoras é meramente um “teorema das lacunas” e que explicações mais
“parcimoniosas” da evidência geométrica poderiam ser geradas. Isto é
simplesmente não entender a natureza da racionalização envolvida.
É claro, um ateísta
poderia rejeitar a própria possibilidade de tal demonstração metafísica. Ele
poderia declarar que não há um tipo de argumento que, como matemática, leva a
verdades necessárias e ainda que, como a ciência, começa a partir de premissas
empíricas. Mas se assim é, ele terá que fornecer um argumento separado
para esta declaração. Meramente insistir que não há tal
argumento simplesmente é petição de princípio contra o argumento cosmológico.
Nada disto quer
dizer que o argumento cosmológico não está aberto a crítica potencial. O ponto
é que o tipo de crítica que alguém poderia tentar levantar
contra ele não é simplesmente o tipo de alguém levantaria no contexto de
ciência empírica. Ele requer ao invés disto, conhecimento de metafísica e
filosofia mais geral. Mas isto naturalmente nos leva ao próximo ponto:
8. Hume e Kant não possuem a palavra
final sobre o argumento. Nem ninguém mais.
É frequentemente
declarado que Hume, ou talvez Kant, essencialmente tiveram a última palavra
sobre o tema do argumento cosmológico e que nada significante foi ou poderia
ser dito em sua defesa depois do tempo deles. Eu acho que nenhum filósofo que
fez um estudo especial do argumento iria concordar com este julgamento, e
novamente, isto inclui filósofos ateístas que rejeitaram o argumento. Por
exemplo, eu não acho que ninguém que estudou o tema iria negar que Elizabeth
Anscombe apresentou uma séria objeção à declaração de Hume que algo
concebivelmente poderia vir à existência sem uma causa. Nem Anscombe é de
qualquer forma a única filósofa a criticar Hume nesta matéria. Eu não estou
declarando que todo mundo iria concordar que as objeções levantadas por Anscombe
e outros são ao final do dia corretas (apesar de eu achar que eles
concordariam), só que eles concordariam que é errado alegar que Hume de alguma
forma terminou todos os debates sérios sobre a matéria (Naturalmente, eu
discuto este tema em Aquinas).
Para pegar outro
exemplo, a objeção de Hume que o argumento cosmológico comete uma falácia de
composição é, como eu tenho notado em um post anterior, também
grandemente valorizado. Pois ele assume que o argumento cosmológico está
preocupado em explicar porque o universo como um todo existe, e
isto não é simplesmente verdadeiro para todas as versões do argumento. Tomistas
frequentemente enfatizam que o argumento do livro de Aquino, Do Ser e Essência, requer apenas que a premissa que alguma
coisa ou outra exista – uma pedra, uma árvore, um livro, seu sapato
esquerdo, o que for. A declaração é que nenhuma destas coisas
poderiam existir mesmo por um instante a menos que mantidas por Deus. Você não
precisa começar o argumento com a premissa imaginária sobre o universo como um
todo; tudo que você precisa é uma premissa para o efeito de que uma pedra
existe, ou um sapato, ou o que você tem (Novamente, leia Aquinas para a história completa). Mesmo versões
do argumento que se iniciam com a premissa sobre o universo como um todo são
(em minha visão e a de muitos outros) não realmente prejudicada pela objeção de
Hume, por razões que eu expliquei no post que acabei de citar. De qualquer
forma, eu acho que qualquer um que estudou o argumento cosmológico em qualquer
profundidade iria concordar que é certamente seriamente debatível se
Hume feriu alguma coisa ali.
Em geral, críticos do argumento cosmológico tendem arbitrariamente a
mantê-lo em um padrão que não fazem com outros argumentos. Em outras áreas da
filosofia, mesmo as visões mais problemáticas são tratadas como dignas de
debate contínuo. O fato de haver toda sorte de objeções sérias à visão
materialista das teorias da mente, ou das visões consequencialistas em ética,
ou as visões liberais de Rawlsian na filosofia política, não leva ninguém a
sugerir que estas visões não deveriam ser levadas a sério. Mas o fato que
alguém em algum lugar levantou tal-e-tal objeção ao argumento cosmológico é
rotineiramente tratado como se isto foi o suficiente para estabelecer que o
argumento foi decisivamente “refutado” e não precisa de maiores atenções.
Jason Rosenhouse joga este jogo em sua resposta a meu post recente sobre
Jerry Coyne. Escreve Rosenhouse:
Feser parece tão tomado [pelo argumento cosmológico], mas há várias refutações fortes disponíveis na literatura. De cabeça eu encontro a discussão de Mackie no The Miracle of Theism e a discussão de Robin Le Poidevin em Arguing for Atheism para ser tanto convincente como acessível.
Rosenhouse realmente acha que nós, defensores do argumento cosmológico,
não estamos familiarizados com Mackie e Le Poidevin? Presumivelmente não. Mas
então, qual é o seu ponto? Isto quer dizer, qual é o ponto que ele está
tentando fazer que manifestamente não é petição de princípio? Afinal de contas,
o que Rosenhouse acharia da seguinte “objeção”:
Rosenhouse parece tão tomado pela visão materialista da mente, mas há várias refutações fortes disponíveis na literatura. De cabeça eu encontro The Immaterial Self de Foster e os ensaios em The Waning of Materialism de Koons e Bealerto, para ser tanto convincente como acessível.
Ou, enquanto nós estamos no tema do que proeminentes filósofos ateístas
disseram, o que ele acharia de:
Rosenhouse parece tão tomado pelo darwinismo, mas há várias refutações fortes disponíveis na literatura. De cabeça eu encontro a discussão de Fodor e Piatelli-Palmarini em What Darwin Got Wrong e a discussão de David Stove em Darwinian Fairytales para ser tanto convincente como acessível.
A resposta de Rosenhouse a ambas objeções seria, eu imagino ser: “Desde
quando Foster, Koons, Bealer, Fodor, Piatelli-Palmarini, e Stove conseguiram a
última palavra nestas matérias?” E isto seria uma boa resposta. Mas não pior é
a seguinte resposta a Rosenhouse: Desde quando Mackie e Le Poidevin conseguiram
a última palavra sobre o argumento cosmológico?
“Mas isto é diferente!”, eu imagino que Rosenhouse diria. Mas como isto
é diferente? Isto nos leva ao último ponto.
9. O que “a maioria dos filósofos”
acha sobre o argumento é irrelevante.
Presumivelmente, a
diferença está na visão de Rosenhouse somada com outro destaque que ele faz em
seu post, a saber, “Há uma razão pela qual a maioria dos filósofos são
ateístas” (ele cita esta pesquisa como
evidência). Por contraste, a maioria dos filósofos não são dualistas ou
críticos do darwinismo (apesar de que, de fato, o número de proeminentes
dualistas não é insignificante, mas deixemos isto de lado). Agora se o que
Rosenhouse quer dizer é implicar que filósofos que fizeram um estudo especial
do argumento cosmológico agora tendem a concordar que ele não é mais digno de
consideração séria, então por razões já mencionadas, ele está bem errado sobre
isto. Mas o que ele provavelmente quer implicar é que já que a maioria dos
filósofos acadêmicos contemporâneos em geral são ateístas, nós
devemos concluir que o argumento cosmológico não é digno de séria consideração.
Mas o que esta
pequena estatística realmente significa? Eu deixarei o Mr. Natural nos dizer o
que ela realmente significa.
Porque o pequeno comentário perspicaz de Rosenhouse realmente não passa nem um
pouco mais do que um apelo falacioso à autoridade da maioria. O que “a maioria
dos filósofos” acha pode ser relevante para o tema em discussão somente se nós
pudéssemos estar confiantes que os filósofos acadêmicos em geral, e
não somente filósofos da religião, são tão competentes para falar sobre o
argumento cosmológico e razoavelmente objetivos sobre ele. E de fato há boas
razões para que nenhuma condição seja satisfeita.
Considere primeiro
que, como eu tenho documentado em vários posts antes (aqui, aqui, e aqui) proeminentes
filósofos que não são especialistas na filosofia da religião frequentemente
dizem coisas sobre o argumento cosmológico que são demonstravelmente
incompetentes. Considere além disto que aqueles que se especializam em
áreas da filosofia relacionadas com argumentos como o argumento cosmológico não tendem
a ser ateístas, como eu notei aqui. Se experiência
valer de alguma coisa – e pessoas do tipo Novos Ateístas “Aprendam a ciência!”
estão sempre insistindo que vale – então seguramente nós não podemos ignorar a
óbvia implicação que aqueles que realmente se importam em estudar argumentos
como o argumento cosmológico em profundidade são mais propensos a considerá-los
como argumentos sérios, e mesmo como argumentos convincentes.
Agora o Novo
Ateísta irá manter que a direção de causalidade vai em sentido contrário. Não é
que o estudo do argumento cosmológico em detalhes tende a levar alguém a levar
a crença religiosa seriamente, eles irão dizer. Pelo contrário, pessoas que já
tomam a crença religiosa seriamente que tendem a ser mais propensos a estudar o
argumento cosmológico. É claro, seria legal ver uma razão sem
petição de princípio para achar que isto é tudo que está acontecendo. E há uma
razão para duvidar que isto seja tudo que possa estar
acontecendo. Afinal de contas, há várias outras ideias que dão suporte à
religião que filósofos acadêmicos da religião não devotam tanta atenção –
criacionismo da terra jovem, espiritualismo, e similares. Evidentemente, a
razão pela qual eles devotam mais atenção ao argumento cosmológico é que eles sinceramente
acreditam, com base em seu conhecimento sobre ele, que o argumento é digno
de estudo sério de uma forma que estas outras ideias não são, e não meramente
porque eles estão predispostos a aceitar suas conclusões.
A objeção em
questão é também uma faca de dois gumes. Pois porque supor que os filósofos
ateístas são mais objetivos que os teístas? Em particular, porque deveríamos
estar tão confiantes que a maioria dos filósofos (fora da filosofia da
religião) são ateístas porque eles estudaram seriamente
argumentos como o argumento cosmológico e os acharam falhos? Por que não
concluir o contrário, precisamente porque eles tendem por outras razões a serem
ateístas, é que eles não se importaram de estudar argumentos
como o argumento cosmológico seriamente? Os destaques que alguns deles fazem
sobre o argumento certamente dá suporte para esta suspeita (Novamente, eu dou
exemplos aqui, aqui e aqui).
E há outra razão
para a suspeita. Afinal de contas, como filósofos sem um machado teológico para
afiar algumas vezes reclamam – veja aqui eaqui para alguns
exemplos – seus colegas podem ser com frequência orgulhosamente insulares e
mal-informados sobre subdisciplinas fora de sua própria e sobre a história de
seu próprio campo. E como outros acadêmicos, eles podem ser irreflexivos,
dogmáticos e desinformados em seu secularismo. Aqui você também não precisa
tomar minhas palavras sobre isto. Muitos filósofos seculares também notaram
a mesma coisa.
Daí, Thomas Nagel opina que um “temor pela religião” parece sempre
fundamentar o trabalho de seus colegas intelectuais secularistas, e que isto
teve “larga e frequentemente perniciosas consequências para a vida intelectual
moderna”. Ele continua:
Eu falo pela experiência, estando eu mesmo fortemente sujeito a este tipo de temor: eu quero que o ateísmo seja verdadeiro e me sinto desconfortável pelo fato de que algumas das mais inteligentes e bem-informadas pessoas que eu conheço são crentes religiosos. Não é somente o fato que eu não acredito em Deus e, naturalmente, espero que eu esteja correto em minha crença. É que eu espero que não haja Deus! Eu não quero que haja um Deus; eu não quero que o universo seja assim. Meu palpite é que este problema de autoridade cósmica não é uma condição rara e que é responsável por muito do cientificismo e reducionismo de nosso tempo. Uma tendência que ela dá suporte é sobre-uso absurdo da biologia evolucionária para explicar tudo sobre a vida humana, incluindo tudo sobre a mente humana… Esta é de qualquer forma uma situação ridícula… É simplesmente tão irracional ser influenciado em uma crença pela esperança que Deus não exista, tanto com é pela esperança que Ele exista (The Last Word, págs. 130-131).
Jeremy Waldron nos diz que:
Teoristas seculares frequentemente assumem que eles sabem o que um argumento religioso é: eles o apresentam como uma prescrição de Deus, apoiado por uma ameaça de fogo do inferno, derivado de uma revelação geral ou particular, e eles o contrastam com a elegante complexidade de um argumento filosófico feito por Rawls ou Dworkin. Com esta imagem em mente, eles acham óbvio que o argumento religioso deveria ser excluído da vida pública... Mas aqueles que se importaram de de familiarizar com os argumentos baseados em religião existentes na teoria política moderna sabem que isto é frequentemente um disfarce... (God, Locke, and Equality, pg. 20)
Tyler Burge opina
que o “materialismo não está estabelecido, nem mesmo claramente suportado pela
ciência” e que ele mantém seus pares de forma análoga a uma “ideologia política
ou religiosa” (“Mind-Body Causation and Explanatory Practice”
em John Heil e Alfred Mele, eds., Mental Causation, p.
117).
John Searle nos diz
que o “materialismo é a religião de nosso tempo”, que “como religiões mais
tradicionais, é aceita sem questionar e... provê o quadro onde cada outra
questão pode ser colocada, endereçada e respondida”, e que “materialistas estão
convencidos, com uma fé quase religiosa, que sua visão deve ser correta” (Mind: A Brief Introduction, pg. 48).
William Lycan
admite, naquilo que ele mesmo chama “um exercício não característico em
honestidade intelectual”, que os argumentos para o materialismo não são
melhores que os argumentos contra ele, que sua “própria fé no materialismo é
baseado na adoração da ciência”, e que “nós também sempre pedimos para nossos
oponentes padrões melhores de argumentação que nós mesmos obedecemos” (“Giving Dualism its
Due”, um artigo apresentado na conferência Australasian Association of Philosophy de 2007 na University of New England).
O filósofo ateísta da religião, Quentin Smith, mantém que “a grande
maioria dos filósofos naturalistas possuem uma fé injustificada que o
naturalismo é verdadeiro e uma fé injustificada que o teísmo (ou
supernaturalismo) é falso”. Pois seu naturalismo tipicamente se baseia em nada
mais do que uma desinformada “despedida do teísmo” que ignora “o brilho erudito
da filosofia teísta hoje”. Smith continua:
Se cada naturalista que não se especializa na filosofia da religião (ou seja, mais de noventa e nove porcento dos naturalistas) estivessem trancados em um quarto com teístas que se especializam na filosofia da religião, e o subsequente debate fosse moderado por um naturalista que tem uma especialização na filosofia da religião, o moderador naturalista poderia no máximo esperar que o resultado fosse que “nenhuma conclusão definida pode ser obtida a respeito da racionalidade da fé”, embora eu esperasse que o mais provável resultado é que o naturalista, desejando ser um moderador justo e objetivo, teria que concluir que os teístas definitivamente tiveram vantagem em cada argumento ou debate.Devido à atitude típica do naturalista contemporâneo... a vasta maioria dos filósofos naturalistas vieram a manter (desde o fim dos anos 1960) uma fé injustificada no naturalismo. Suas justificações têm sido derrotadas por argumentos desenvolvidos por filósofos teístas, e agora filósofos naturalistas, na maior parte, vivem em escuridão sobre a justificação do naturalismo. Eles podem ter uma verdadeira crença no naturalismo, mas eles não têm conhecimento que o naturalismo é verdadeiro já que eles não possuem uma justificação não derrotada para sua crença. Se o naturalismo é verdadeiro, então sua crença no naturalismo é acidentalmente verdadeiro [“The Metaphilosophy of Naturalism”, Philo: A Journal of Philosophy (Fall-Winter 2001)].
Novamente, Nagel, Waldron, Burge, Searle, Lycan e Smith não são
apologistas da religião. Fora Smith, eles nem mesmo são filósofos da religião.
Todos eles são proeminentes, e todos eles são “da tendência predominante”. Eles
não possuem motivos para dizer as coisas que dizem além do fato de que é assim
que as coisas honestamente chegam a eles baseados em seu conhecimento do campo.
Mas cientistas não
deveriam ficar presunçosos sobre os lapsos de objetividade entre filósofos.
Pois pelo menos onde temas filosóficos dizem respeito, muitos cientistas são
dificilmente mais competentes ou objetivos, como vimos em um post anterior, e
como os esforços embaraçosos de Richard Dawkings e Stephen Hawking ilustram.
E se você acha que seus pronunciamentos “puramente científicos” estão sempre
livres de qualquer coisa que não seja a boa e velha objetividade “só os fatos,
madame”... bem, como Dawkins irá te dizer, você não deveria acreditar em contos
de fadas. O biólogo Richard Lewontin revelou o segredo algum tempo atrás:
Nossa disposição em aceitar declarações científicas que são contra o senso comum é a chave para entender a real batalha entre ciência e o sobrenatural. Nós tomamos o lado da ciência a despeito do absurdo patente de algumas de suas construções, a despeito de sua falha em cumprir muitos de suas extravagantes promessas de saúde e vida, em despeito da tolerância da comunidade científica a tais estórias insubstanciadas, porque nós temos um compromisso maior, um compromisso com o materialismo. Não é que os métodos e instituições da ciência de alguma forma nos compele a aceitar uma explicação material do mundo fenomenal mas, pelo contrário, que nós somos forçados por nossa aderência a priori às causas materiais para criar um aparato de investigação e um conjunto de conceitos que produzem explicações materiais, não importando quão contra-intuitivo, não importando quão místico é para o não iniciado. Além do mais, aquele materialismo é absoluto, pois não podemos permitir um Pé Divino na porta. [De uma revisão do livro de Carl Sagan, The Demon-Haunted World na New York Review of Books (January 9, 1997)].
Mas aqui está o
ponto-chave. O tal “O que pessoas respeitáveis dizem?” que
Rosenhouse, Coyne e outros Novos Ateístas estão sempre se engajando é juvenil e
fútil também, já que eles nunca são capazes de nos dizer o que conta como
“respeitável” de uma forma que não faça petição de princípio sobre o tema. É
surpreendente quanto tempo e energia Novos Ateístas gastam para tentar criar
cada vez mais elaboradas desculpas para não se engajar nos reais
argumentos de seus críticos. Se somente isto não te deixa suspeito, então
eu suponho que você não esteja pensando criticamente.
bem cumpridinho, mas muuuuito muito bom (y)
ResponderExcluirOlá amigo tudo bem? Espero que sim, veja este link: http://www.bulevoador.com.br/2010/03/deus-religiao-e-argumentos-i/ depois me diga o que achou dos argumentos.
ResponderExcluirO argumento da primeira causa
ResponderExcluirO argumento da primeira causa tem a vantagem de ser dedutivo, ao contrário do argumento por analogia anterior. Eis uma das suas versões:
Todos os acontecimentos têm uma causa.
Logo, há uma causa para todos os acontecimentos.
Se este argumento fosse válido, seria muitíssimo poderoso. Baseia-se numa ideia originalmente avançada por Aristóteles (384-322 a.C.), se bem que não exactamente nesta forma, e foi depois desenvolvido por Tomás de Aquino (1225-74), sendo uma das suas Cinco Vias (cinco argumentos a favor da existência de Deus).
Infelizmente, o argumento é falacioso: a conclusão não se segue da premissa. Chama-se hoje “falácia da inversão dos quantificadores” a este tipo de argumento: a conclusão inverte a ordem dos quantificadores relativamente à premissa, e este tipo de inversão é falaciosa. A forma lógica falaciosa do argumento é a seguinte:
“x $y Cyx
? $y “x Cyx
Qualquer pessoa pode compreender a falácia se pensar noutro argumento exactamente com a mesma forma lógica, mas com uma premissa verdadeira e uma conclusão falsa:
Todas as pessoas têm um nariz.
Logo, há um nariz que todas as pessoas têm.
Pensa-se por vezes que quando um argumento é inválido a sua conclusão é falsa. Isto é uma confusão. Tudo o que mostramos quando mostramos que um argumento é inválido é que a premissa ou premissas não justificam a conclusão; mas não mostrámos que a conclusão é falsa. A conclusão pode muito bem ser verdadeira. O que se passa é que o argumento, sendo inválido, não nos dá qualquer razão para pensar que a conclusão é verdadeira. Se pensamos que a conclusão é verdadeira, tem de ser por outra razão qualquer.